segunda-feira, 23 de junho de 2008

3ª. PARTE – São João Del Rey. Uma pausa para o turismo



Depois de Entre Rios de Minas subíamos e descíamos serras imensas com um visual incrível, as margens das estradas eram muito bem arborizadas, e nas descidas das serras, às 16:00 horas com um sol brilhando no céu azul, sentíamos um frio cortante.

Chegamos a São João Del-Rei depois de 9 horas e 17 minutos de viagem e 113,92 km rodados, sendo que de pedaladas efetivas, foram 6h07’18”, embora as descidas fossem imensas, não atingimos mais que 54,9 Km/h de velocidade máxima, pois além de apreciarmos o visual, tínhamos a preocupação com os bagageiros que já se mostraram frágeis.
Na entrada da cidade o bagageiro avariado não resistiu e quebrou-se definitivamente. Com aquela peça não daria mais para continuar.
São João Del-Rei, possui uma população de aproximadamente 84 mil habitantes, é uma cidade das mais aprazíveis que se pode encontrar pela Estrada Real, tem boa infraestrutura e um acervo histórico magnífico. Destaques para: Igreja de São Francisco de Assis concluída em 1804 com projeto original do Aleijadinho; Basílica Nossa Senhora do Pilar, terminada em 1750 e que foi destruída por um incêndio durante a guerra dos emboabas e se encontra atualmente bem preservada, além de diversos museus, entre eles o ferroviário e o solar dos Neves, antiga residência do ex-presidente Tancredo Neves, que possui rico acervo.

A cidade serviu para uma pausa estratégica em nossa jornada, na manhã do terceiro dia, fomos procurar um bagageiro novo, depois de visitarmos algumas oficinas, encontramos um na Bike Shop, loja de bicicletas e oficina bem montada e com pessoal qualificado. Os funcionários são todos entusiastas do ciclismo. O bagageiro adquirido se mostrou bem mais robusto e eficiente para o cicloturismo, possui armação que é afixada na blocagem do canote e no quadro da bicicleta. Depois de instalado o bagageiro e uma troca de informações sobre trechos da Estrada Real com a galera da oficina, deixamos as bicicletas no hotel e fomos conhecer Tiradentes. Naquele dia a Maria-fumaça não estava em funcionamento, por isso fomos de ônibus até Tiradentes que é uma das cidades mais belas da Estrada Real, não pode ficar de fora do roteiro. Com casario colonial restaurado e muito bem preservado a cidade é palco do festival de cinema que acontece em janeiro e do festival gastronômico que acontece em agosto. Falando em gastronomia, a cidade possui vários restaurantes descolados e que oferecem o que a comida mineira tem de melhor, incluindo uma gama de doces e sobremesas. A cidade surgiu em 1702 erguida por bandeirantes paulistas com o nome de Vila de São José Del-Rey e com a proclamação da república, passou a ter a designação atual, em homenagem ao mártir da inconfidência mineira alçado a herói pelos republicanos. A cidade é emoldurada pela serra de São José com altitude média de 1.100m. Os destaques ficam com o chafariz de São José de 1749, a Igreja Matriz de Santo Antônio finalizada em 1750 e o santuário da Santíssima Trindade do século XVIII que oferece uma vista imperdível de Tiradentes.

Deixar São João Del-Rei e suas adjacências com tanto ainda para ser visto, foi meio pesaroso, mas isso obrigou-me a fazer uma auto-promessa de que eu voltaria ali para visitar os museus, igrejas, trilhas e cachoeiras que tornam aquela cidade um dos principais destinos turísticos de Minas Gerais.

Iniciamos nosso terceiro dia de pedaladas rumando para Caquende. Depois de andarmos aproximados 15 km de asfalto pela BR 265, entramos em uma estrada de terra que dá acesso à Caquende e Capela do Saco, duas povoações que estão às margens da represa de Camargos. Até Caquende são 22 km de uma estrada bem conservada e com visual magnífico. O tempo todo vamos vendo o lago da represa que a cada momento vai se mostrando mais bonito. Quando chegamos à Caquende, a balsa tinha acabado de partir, eram quase 11 horas, como o movimento ali deve ser muito pequeno, principalmente durante a semana, eles resolveram fazer uma manobra de retorno e nos pegar para atravessar a barragem. Do outro lado, já no povoado de Capela do Saco, pudemos ver a capela de Nossa Senhora da Conceição do Porto do Saco com construção estimada em 28 de junho de 1812, por ter esta data escrita embaixo do sacrário da igreja, ficou sendo a data oficial do término de sua construção. Como não encontramos nem um bar aberto para comermos um pão-de-queijo com café, seguimos adiante, para a cidade de Carrancas distante dali somente 30 Km.

Se aqueles trinta quilômetros fossem trinta quilômetros comuns, estaríamos cedo em Carrancas, porém, quis Deus com toda a sua sabedoria, que aquele pequeno trecho fosse dos mais difíceis de transpor. A subida da serra de Carrancas é um espetáculo à parte, uma serra íngreme que só aceita off-road. Com a estrada forrada de pedras e areia fofa, as bikes a todo o momento, ou enterravam os pneus na areia, ou escorregavam nas pedras, nos obrigando a parar. Minha bicicleta calçava pneus mistos 26 x 1,95, a bike de meu parceiro calçava pneus Sleek 26 x 1,5 o que tornava a subida ainda mais difícil. Nesse terreno, o risco de se ter um pneu rasgado é bem considerável e levando-se em conta que não levávamos conosco nenhum manchão isso nos obrigava a redobrar os cuidados.

A subida tinha mesmo que ser difícil, isso nos obriga a apreciar melhor a beleza do lugar. A serra de Carrancas possui altitude de 1.590 m, é uma área riquíssima em nascentes que vão ajudar a formar importantes rios de Minas Gerais como o Rio Grande e o Rio Capivari. Apesar de termos água suficiente nos camelbacks, não resisti sem sorver a água de um regato que descia a serra, água gelada, cristalina e pura. É recomendável que em uma viagem de cicloturismo, só se beba água filtrada e de procedência conhecida, por isso optamos por levar além das caramanholas de 0,5 l que serviam para os repositores de sais minerias, os camelbacks de 2,1 litros, nos quais levávamos água mineral comprada em garrafas.
Da serra de Carrancas se avista agora a barragem de Camargos pequenina e distante, é um visual que vale a viagem. Na serra crescem em abundância a arnica (Lychnophora ericoides) que na natureza é encontrada em poucos lugares. A serra ainda é rica em macela (Achyrocline satureoides) e quaresmeiras (Tibouchina granulosa) que embelezam ainda mais o lugar, pude ver também um exemplar de orquídea que brotava na rocha bruta e que embora não tivesse flor não deixava de ser bela e interessante. A serra ainda possui pelo menos duas cercas de pedras que não conseguimos precisar a data de sua construção, mas em vários pontos da Estrada Real, podem ser observadas cercas semelhantes que foram feitas ainda por escravos.

Chegamos à cidade de Carrancas por volta das 16 horas, exaustos e famintos, mas não cansávamos de comentar a beleza daquela serra, chegamos à conclusão que se alguém resolve “fazer” a Estrada Real e não passa por Carrancas, não a faz de fato.

Dormimos na pousada Carrancas, onde fomos muito bem recebidos por Da. Augustinha, que inclusive aceitou antecipar o horário de nosso café da manhã, apenas para não nos deixar partir com a barriga vazia. Depois de passar fome na subida da serra, refestelei-me com o desjejum.
A cidade de Carrancas tem se despontado como um dos principais destinos mineiros do eco turismo graças às várias cachoeiras que pululam na região, muitas delas podem ser vistas da estrada. Recentemente, a Cidade também foi cenário para uma novela da Rede Globo. Quem dispuser de tempo, pode falhar um dia nessa cidade e desfrutar dos roteiros turísticos que ela oferece, pode-se inclusive contar com os serviços de agências que levam para diversos passeios.

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