sábado, 1 de dezembro de 2012

CIRCUITO VALE EUROPEU


Cicloturismo pelo Vale Europeu em Santa Catarina.
O Vale Europeu em Santa Catarina realmente é um circuito privilegiado, alia infra-estrutura com paisagens belíssimas e a sensação de percorrer lugares ermos.
Muitos catarinenses ainda não sabem o que é o circuito Vale Europeu, uma jóia para quem curte cicloturismo. Dos ciclistas que conheci pelo caminho, quase todos sabem do que se trata, mas não encontrei um só que o tivesse feito.
O circuito atualmente é uma das principais metas dos cicloturistas do Brasil e dos  cicloturistas estrangeiros que vêm pedalar no Brasil.
O caminho é todo planilhado, mapeado e indicado com as  reconfortantes setas amarelas, inspiradas no caminho de Santiago de Compostela. Embora haja algumas falhas e interpretações dúbias pelo caminho, o resultado final é bom e dá uma segurança a  mais para o cicloturista.
Minha viagem começa no dia 06 de novembro de 2012, período chuvoso e quente, embora em determinados lugares e horários, o frio nos lembre que estamos no sul do país.
O roteiro oficial é:  Timbó a Pomerode- 43,1 km;
 Pomerode a Indaial – 40,1 km;
Indaial a Rodeio – 26,9 Km  mais 11,8 para visitar Apiúna;
 Rodeio a Doutor Pedrinho – 41,1 Km;
Doutor Pedrinho  a Rio dos Cedros – 34,8 Km;
Rio Dos Cedros  a  Palmeiras – 46 km e
Palmeiras a Timbó – 53,0 Km.
Temos que considerar ainda os passeios,  há sempre uma cachoeira a ser visitada, uma igreja  ou outro atrativo qualquer, sem contar os erros de percurso, que nos obrigam a voltar ao ultimo ponto da planilha para não perder o caminho planilhado. 
Para fazer o circuito é recomendado  dispor de 7 dias de pedaladas, um para cada etapa conforme acima  descrito.
Resolvi fazê-lo em 05 dias, não para  testar  minha condição física, mas por que queria passar alguns dias em Floripa e assim conhecer um pouco mais desse belíssimo Estado de Santa Catarina.
A logística para chegar  ao circuito foi a seguinte:
Parti de Unaí no dia 06/11  de ônibus para Brasília, às 11:30 peguei o avião para Florianópolis às 15:00 horas(decidi pagar um pouco mais pela TAM, devido a boa fama de que a empresa cuida bem das bikes); peguei mais um ônibus para Blumenau distante 130 Km de floripa (passagens a 32,00) e 30Km de Timbó, onde começa o circuito.
No dia  07/11 peguei outro ônibus para Timbó(6,50). Mais tarde vi que  é uma boa fazer o percurso de bike, são 30 km na BR 470, muito movimentada e perigosa, mas tem um bom acostamento que dá para trafegar com segurança, desde que a atenção esteja redobrada. 
Dormi em Timbó para sair no dia seguinte. Em Timbó é o momento de pegar o passaporte, paga-se 10,00 por ele  no restaurante Tapyoka. Também é o momento dos últimos preparativos para por as rodas na terra. A cidade também é bem agradável, tem museus e bons restaurantes e pessoas atenciosas. Como a bicicleta ainda estava na mala-bike, tive que pegar um taxi da rodoviária para o hotel que está distante quase 05 Km do centro.




                                          Bike Shop Amorim
                                           Antiga Roda D´água em Timbó.
                                          Ciclovias em Timbó.

                                           Enquanto o furacão Sandy devastava os EUA, a ventania Júnior causava estragos em timbó!!!
POMERODE A INDAIAL
No segundo dia  saí de Pomerode às 07:00. Tinha resolvido que faria duas etapas nesse dia, pois a altimetria era favorável e a soma das duas etapas era de  67 Km.  O trecho entre Pomerode e Indaial é bem povoado repleto de casas, atravessam-se dois bairros Wunderwald e o da Mulde. Mas tem também os morros com a vegetação típica da mata atlântica. Neste dia a chuva continuava quase ininterrupta.  Cheguei a Indaial à 12:05 e rodei 44,18 Km. A oficina Amorim Bike Shop era o local de carimbar o passaporte, e estava fechada para almoço, só abriria às 13:30, fui almoçar e cheguei mais cedo para conversar com um dos  funcionários que aguardavam a abertura da loja, o garoto também é ciclista  e contou-me sobre a prática do ciclismo ali em Indaial.
A bicicletaria é bem montada e pertence aos mesmos donos da bike shop de Timbó, que também visitei, vendem bikes como Cannondale, Rocky Mountain, Soul, Caloi e outras marcas. O pessoal da mecânica é gente que pedala, então, são dois postos importantes para quem quer dar uma revisão ou fazer um  conserto na magrela.

                                              Bike com amortecedor de 1959 em Pomerode
                                          Construção típica em Pomerode.
                                           Casas da rota enxaimel...







                                          Trabalhando os arrozais de Timbó e Indaial...
Igreja Nossa Senhora de Caravaggio.
INDAIAL A RODEIO
Carimbei o passaporte e saí às 13:40 rumo a Rodeio, a segunda etapa do dia. O percurso  margeia o rio Itajaí-açú e é bem plano. Neste trecho temos as pontes com telhados e uma ponte pênsil que é super divertida de atravessar de bike.  Em rodeio as opções de hospedagem são bem limitadas tem um hotel fazenda  e o Cama-Café Stolf de propriedade do simpaticíssimo casal Sr. Dunde e Srª. Irene Stolf, descendentes de italianos que sempre dão um jeitinho para acomodar mai um, o valor da diária é  50,00 com um apetitoso café da manhã. Em Rodeio você não encontrará comércio que aceite cartões de crédito ou débito, é melhor levar dinheiro daqui para a frente.





Mata atlântica onipresente.
RODEIO A DOUTOR PEDRINHO
Atrasei minha saída para ir até Timbó sacar um dinheiro, pois só há agências do BB, CEF e BESC na cidade. Saí da pousada às 9:00 da manhã debaixo de uma chuvinha fina que me acompanhou por todo o percurso desse dia. Sabia que esse seria o dia mais difícil, por isso a chuva era bem vinda, melhor que o sol na moleira. Logo no início da pedalada  passei perto da vinícola San Michelle, mas estava fechada (que pena). E logo comecei a subir o morro do Ipiranga, são cerca de 8,5 Km de subida em meio à mata, com uma ou outra casa de veraneio. Cachoeiras são inúmeras, o caminho é belíssimo, em alguns lugares as Hortênsias margeiam boa parte da subida. Nesse trecho passa-se pelo caminho dos anjos e pelo monumento ao Cristo Redentor, construído por um agricultor da região. Alguns quilômetros depois da subida do Ipiranga tem o desvio para a cachoeira do zinco, são 8 km de ida dos quais mais de 2 km é de uma subida  muito íngreme. A cachoeira é belíssima e compensa o esforço, há uma pousada próxima à cachoeira, disseram-me que é uma das melhores pousadas do caminho.
Nesta etapa também há a única igreja construída no estilo enxaimel do Brasil, valeu a pena parar para conhecê-la, lá encontrei Walter, um descendente de alemão, que primeiramente me perguntou se eu falava alemão, eu disse que não, então conversamos em português, que ele falava com forte sotaque.
Depois do lugarejo onde está a igreja enxaimel, há pequenas subidas e cheguei a Doutor Pedrinho às  16:15.  Nesse dia foram rodados   59,64 Km
                                            Igreja construída em estilo enxaimel
                                          Um abrigo, para aquecer um pouco antes de continuar.
                                            cachoeira do zinco, 78 m de queda.



                                          
                                           Caminho dos anjos.





                                          Ponte pênsil.
                                          Construção em estilo autoportante (italiano)
                                            Sem planilha não vai...


                                          Hospedagem em Alto Cedros.
                                          Travessia do lago dos Pinhais.



                                          Uma pequena cobra garantia seu almoço.




                                          Cachoeira Véu de Noiva.

                                          Trilha para a cachoeira.
Cicloturistas de Sergipe, Santa Catarina e Minas.

DOUTOR PEDRINHO A ALTO DOS CEDDROS.
Em Doutor Pedrinho encontrei quatro novos amigos. Cicloturistas de Aracajú,  Julio, Marta, Sidney e Rômulo, estavam hospedados no hotel Clistofolini, onde também me hospedei.
Apresentei-me a eles e trocamos algumas informações sobre nossas viagens. À noite eles me convidaram para seguir com eles no dia seguinte.
Seguimos juntos para Alto Cedros, saímos às 08:15 e aproveitei para relaxar sem acompanhar as planilhas. Aqueles novos parceiros de viagem foram uma grata surpresa, desviamos um pouco do caminho para conhecer a Cachoeira Véu de noiva distante apenas 10,5 Km da cidade, com uma trilha muito saborosa de cerca de 200 m até a beira da cachoeira.
A cachoeira é linda e é possível tomar um banho delicioso em seu poço, nesta hora agradeci a Deus por ter encontrado com outros ciclistas, caso contrário, possivelmente não teria tomado banho de cachoeira no Vale Europeu. Viajar sozinho é muito especial, mas com isso ficamos mais cautelosos e por isso muitas vezes evito nadar em rios, lagoas  e córregos quando estou só.
Este foi o dia mais pesado para todos nós. A chuva parou e o sol  apareceu com força de verão, apesar de ainda ser primavera.
Este trajeto é muito bonito, com muitas araucárias e lugares ermos. Apesar de uma ou outra fazenda  pelo percurso a gente se sente bem longe da civilização. Atravessamos riachos sem pontes e pedalamos por estradinhas bem estreitas. Chegamos às 13:30 no ponto final daquele dia.
Em Rio dos Cedros (Alto Cedros) só tem duas opções de hospedagem, o hotel Lindnerhof  e a casa da família Duwe, onde nos hospedamos. É bom fazer reserva nesta localidade, bem como na próxima localidade de Palmeiras.  O Sr. Raulino fez nossa travessia em seu barco e nos hospedou em um simpático chalé de Pinus e eucalipto, nos serviu um revigorante lanche e à noite um lauto jantar.



                                           Um tributo às magrelas...





                                           Subida do Cunha à vista.
                                           Ponte Coberta, uma tradição local.
                                            Passarela sobre o rio milanês.









RIO DOS CEDROS – PALMEIRAS-TIMBÓ. 12/11/12

Despedi-me de meus novos amigos prometendo novas jornadas juntos. Naquele dia resolvi fazer um “rally”  de  pelo menos 99 Km para chegar a Timbó e completar meu passeio em cinco dias. Eram 7 horas quando o Sr. Raulino fez a travessia do lago levando minha Bike e eu para iniciar aquela última etapa. O dia amanheceu com uma leve e desejável  chuva. Na noite anterior havia caído uma chuva bem mais forte que causou um grande lamaçal na margem da lagoa. A cerração não permitia uma visão muito ampla da estrada e tampouco da paisagem nos momentos iniciais  da pedalada.

Neste dia passa-se por uma  reserva extrativista de madeira, muita mata atlântica e margeiam-se duas represas, o que deixa o lugar muito bonito. Chegando à Palmeiras aparecem as casas de veraneio, tudo estava deserto. Minha idéia era almoçar no bar do Faustino, mas este estava fechado, chamei e ninguém atendeu já eram 11:00. Voltei à pousada Flor da Terra, chamei e ninguém também atendeu.

Encontrei um bar semi-aberto, no entanto, não havia nada para servir naquele momento, a mulher explicou-me que mais adiante haveria um bar  onde eu poderia comer algo.

Mais à frente encontrei um simpático senhor empurrando uma bike ladeira acima e este me explicou que logo à frente desviando um pouco do caminho eu encontraria um bar. Não pensei duas vezes, fiz um desvio. Estava faminto, comi a melhor carne cozida com aipim que poderia existir.  Abasteci-me de água e comprei um energético, afinal naquele dia eu tinha que enfrentar “o Cunha”.  

O último dia de pedaladas  reserva ainda belas paisagens e bons desafios. A névoa  insistente dá o tom europeu na serra, pinheiros, araucárias, pradarias, casinhas de madeira completam o cenário. Mas naquele dia havia a descida da serra  e  logo em seguida a aguardada subida para a localidade do Rio Cunha. A descida  da Localidade chamada Rio Milanês faz valer a pena ter freios a disco na bike. Um caminhão passou por mim,  subindo sofrivelmente a estrada, e o ajudante do motorista deu para mim aquele sorriso sarcástico de quem sabe que depois daquela descida há um aclive de fazer chorar.

De fato, a subida da serra do “cunha” é um belo desafio, são dois quilômetros de subida das mais íngremes que já fiz. Porém todo o esforço é recompensado pelo visual. A serra é em meio à mata atlântica bem preservada,  e tardar em subi-la é uma benção que Deus concede ao viajante  que não se deixou intimidar com a subida. 

  Depois da subida, são cerca de 22 Km de terreno em descida ou plano, é um verdadeiro refresco para os cicloturistas. A chegada à Timbó é emocionante, como o é cada chegada ao destino. O circuito finaliza-se nos fundos do Restaurante Tapyoka onde convém celebrar o percurso com um(s) chopp(s) de fabricação local, enquanto aguarda o certificado de conclusão do percurso.

No dia seguinte resolvi  despachar uma parte da bagagem para Blumenau e fazer os trinta quilômetros de BR 470 que separam as cidades de  Blumenau e Timbó.







Em Blumenau levei a bike para uma lavagem e lubrificação na oficina Weigmann, embalei-a na mala-bike e no dia seguinte depois de uma bela noite de sono peguei um ônibus para Floripa, por que ninguém é de Ferro.

 Para servir de referência:

Rodei ao todo: 379,6 Km (com passeios alternativos e erros de percurso)

Paguei pernoites em hotéis e pousadas que variaram de R$ 37,00 (hotel Írias em Timbó) a 145,00 (Hotel Íbis em Blumenau) em Blumenau há hotéis de 50,00.

Para comida e bebidas, reservei 50,00 por dia e na média foi suficiente.

Gastei cerca de R$ 260,00 com transporte urbano e Taxi em toda a viagem.

Bicicleta utilizada: specialized rockhopper com alforges

Câmara fotográfica Fujifilm XP20.

No mais, desejo sorte àqueles que resolverem fazer esse cicloturismo e garanto que serão muitos os momentos inesquecíveis.
                                          Praia Brava em Florianópolis
                                         Voo de parapente em Floripa

                                         Fortaleza de Santa Cruz  na ilha de Anhatomirim
                                                       Vista parcial da ilha de Anhatomirim