domingo, 28 de agosto de 2016

PEDALANDO PELA CHAPADA DIAMANTINA


Depois de dois anos de planos e sonhos meus amigos Gilberto, Boy, Bruno e eu rumamos para a Chapada Diamantina no Sudoeste da Bahia. Um paraíso para os sentidos; o frio, o calor, a vista deslumbrante, os cheiros da chapada, o paladar da comida baiana e das cervejas artesanais, os sons das cachoeiras e do falar gostoso do povo baiano, sempre receptivo e simpático.
Acordamos às quatro horas, pois tínhamos 1.113 Km pela frente, fixamos as quatro bikes na carreta que seria puxada pela caminhonete. Tínhamos bagagem de sobra, levamos barracas, comida, água. Estávamos preparados para acampar.


Chegamos à Chapada por volta das 20 horas, no povoado de Campos de São João, distrito de Palmeiras. O plano era fazermos ali um acampamento selvagem, porém, a chuvinha fina e fria que nos recebeu na chapada dissuadiu-nos dessa ideia, encontramos a pousada e estalagem do Louro uma das duas do povoado. Boas acomodações por um preço justo. Pagamos a diária de 50,00 por pessoa.
Nosso Chef, o Gilberto, preparou de saída uma “carne de lata” à mineira. Tudo ali em uma área transformada em cozinha.


Preparando o Café da manhã

Nossa ideia era pedalar nos principais pontos da chapada e sempre retornar para aonde tínhamos deixado o carro. 




A partir da esquerda: Gilberto, Bruno, Boy e Rony

Gruta da Pratinha em Iraquara 

Em Campos de São João, um belo distrito de Palmeiras, pudemos sair para bons passeios, como a gruta da Pratinha. Uma belíssima caverna inundada com águas azuis e com o fundo forrado com micro-conchas. Para entrar na caverna somente fazendo flutuação. Paga-se 140,00 por pessoa pelo passeio. Para quem não vai entrar na caverna há um ótimo banho no rio que atravessa a gruta, água com temperatura média de 24°. Dá vontade de ficar o dia todo, mas tínhamos que andar mais.
Fizemos um percurso em estradão bem conservado, a sinalização é precária e as informações são meio confusas. Mas no final conseguimos chegar à gruta.





Em seguida voltamos para a rodovia asfaltada e seguimos para o morro do Pai Inácio. Depois de cerca de 2 Km de subida na BR 242 tem uma entrada à esquerda. Dali até a entrada da trilha do morro são mais 2 Km de subida forte em estrada de terra e então uma trilha de 650 metros leva até o alto do morro do Pai Inácio, paga-se 5,00 por pessoa, pois ali é um parque municipal. A vista é imperdível, na nossa visita, o clima que foi nosso parceiro, trazendo umidade e sombra, cobrou o seu preço. Nossa vista foi um pouco  prejudicada pela neblina. Em raros momentos podíamos ter a magnífica visão da Chapada. É um passeio que não se pode perder.
Boy no seu elemento natural: o Single Track




Vista do Morro do Pai Inácio.





Nosso chefe e chef preparando o jantar.



A antiga ponte sobre o rio Lençóis.

No segundo dia saímos cedo de Campos de São João rumo à bela cidade de Lençóis, colocamos as bikes na pickup pegamos a BR 242 bem conservada, mas a neblina densa exigia cuidado, saindo da BR entramos na BA 144 para chegar à cidade. Lençóis é uma daquelas cidades que dá vontade de passar uma temporada por lá. Depois de um café da manhã reforçado em uma lanchonete que infelizmente não guardei o nome, fomos fazer uma pesquisa de preços para nos hospedarmos. 

Ainda caía uma chuvinha fina, quando chegamos à Pousada e Camping Lumiar. Conseguimos uma diária em quarto quádruplo de R$ 70,00 por pessoa. 











Quarto muito bom em um antigo casarão colonial do ciclo do diamante. A pousada ainda possui um ótimo restaurante e boa área para camping. Depois de alojados, colocamos as bikes pra rodar. Primeiramente um passeio pelas ruas calçadas de pedras. Depois de algumas informações e algumas tentativas de contratar um guia, resolvemos seguir pela trilha para a cachoeira do Meio. 








Chegamos sem dificuldade à entrada da trilha. Uma trilha curta, porém bem desafiadora para quem está de bicicleta. Cercada de mata com alguns trechos de valas fundas, outros com muitas pedras e raízes se tornou nosso parque de diversão. São aproximadamente 3,5 Km de trilha, mas dá para se divertir bastante. Bruno e eu deixamos as bikes escondidas no mato, Boy e Gilberto chegaram mais próximos da cachoeira.

 A bela cachoeira do ribeirão do Meio. Um tobogã natural cuja rocha lisa permite ao banhista fazer uma descida radical até mergulhar na imensa piscina de águas escuras devido ao tanino de folhas diluídas naturalmente. O poço é fundo e com muitas pedras para ficar. Tem vários lugares para saltar, mas não se deve saltar sem perguntar aos salva-vidas e guias que ficam no local, às vezes rochas que estão a poucos centímetros da tona não são vistas pelo banhista.





 Em seguida pegamos as bikes e nos dirigimos à cachoeira do Sossego, mais trilhas divertidas. Fomos pedalando até onde deu, deixamos as bikes presas e seguimos a pé. Perdemos a trilha e não chegamos à cachoeira, voltamos meio frustrados, mas o passeio valeu. 

A volta pela trilha é outra aventura, agora com mais descidas. Chegando à Lençóis, fomos comemorar na rua da Baderna. 

Na verdade duas ruas com vários bares, fechadas ao trânsito e com as mesas dispostas na rua.

Voltamos à pousada para prepararmos nosso jantar. Naquela noite churrasco e macarrão. Tudo preparado na cozinha do camping.



No dia seguinte, o amigo Bruno não amanheceu bem,  já anunciou que não conseguiria pedalar.

 A távola redonda foi convocada. Ficou acertado que o Bruno ia dirigindo até Lençóis, uma viagem de cerca de 100 Km voltando pela BR 242. Nós três, iríamos pela estrada antiga até Andaraí. As informações nos chegaram como sendo 45, 38 e 35 Km.

O pessoal da pousada nos deu algumas dicas e então partimos. O Caminho é um passeio à parte, estradões de areia branca, todo sombreado, com alguns trechos pedregosos e várias travessias de rios e riachos. A areia fofa ameaçava um tombo que não aconteceu, mas exigia muito das pernas. Nosso lanche em um área bem sombreada, foi composto de carne, biscoitos e rapadura, nada mal.
O caminho margeia o arenoso Rio São José, cujas águas também têm cor de chá preto.



                          Tem que cuidar da relação.




Depois de cerca de 18 Km Chegamos na majestosa cachoeira do Roncador, pausa para banhos e fotos.



















Em seqüência, mais areia, mas era muito prazeroso andar naquelas estradas desertas, logo começamos a margear um pântano que integra o grande pantanal de Marimbus.

Logo em seguida um belo delta arenoso formado pelo ribeirão Garapa. Para transpor o rio tínhamos que carregar as bicicletas nas costas. Celebrávamos cada uma dessas travessias, algumas com o rio atingindo a cintura.
Chegamos a Andaraí depois de 28 Km, daí foi só andarmos pela cidade para encontrar  nosso amigo, “desgarrado” Bruno. Previdente nosso amigo já havia arrumado um lugar para comermos um PF muito bem vindo, e tomando um moto-taxi arrumou a pousada Andaraí para ficarmos naquela noite.





Pousada boa com piscina, valor por pessoa 50,00. Andaraí possui várias opções de pousada, não sendo problema se hospedar por lá. Depois de um banho, saímos para traçar nossa rota no dia seguinte.

Conversamos com o Ney e o Pelé da Ney Bike, a melhor oficina da cidade. Queríamos dar uma manutenção, lavar e lubrificar as relações que já estavam com muita areia, ficamos de levar no dia seguinte, o que infelizmente não aconteceu. O Ney e o Pelé nos ajudaram a traçar nossa rota para o dia seguinte. Fomos para a pousada jantar uma suã de porco preparada com maestria pelo Gilberto.


Vista parcial da cidade de Andaraí








No dia seguinte, 28/07 deixamos toda a tralha pronta e saímos na rodovia BA 142 sentido Mucugê, depois de  4,3 Km tem a ponte do rio Paraguaçu à nossa direita a Cachoeira Donana e à esquerda um balneário com praias de areia branca. Depois de andarmos aproximadamente 6 Km, avistamos uma placa bem discreta que indicava a trilha para Igatu.



          Trilha de 6 Km de subida, rumo à cidade de pedras





 A Trilha é o antigo caminho dos garimpeiros, tínhamos sido orientados a subir pelo calçamento que está pouco a frente da entrada da trilha, e só então descer por essa trilha antiga. Resolvemos encarar a pedreira na subida. 

E foi a melhor escolha do dia. São cerca de 6 km de subida que mesclam trilha técnica, calçamento de pedra, paredões rochosos, mata e caatinha. Sem dúvida a melhor trilha que já fiz na vida, e meus três amigos disseram o mesmo.  Empurramos em muitos lugares, eu mais que os outros, afinal alguém tinha que fotografar.










 Para quem curte single tracks não tem trilha melhor, para nosso amigo Boy, “o pai do single” era o paraíso. A trilha ainda nos reservava uma surpresa, já no final, chegando em Igatu, as ruínas de uma antiga vila com casas feitas de pedra. Uma visão surreal, as ruínas mimetizadas na montanha. A história do garimpo com um testemunho irretocável. Impossível não parar para admirar aquele lugar.


















 



A igreja bem no final da trilha, para quem sobe, é do século XIX dedicada a São Sebastião, não encontramos placa indicativa da construção da igreja, mas no cemitério ao fundo tem um túmulo de 1800.






O belo povoado de Igatu é tombado pelo IPHAN, suas ruas antigas com casario do apogeu do garimpo e com algumas casas antigas de pedra que aproveitam rochas naturais como paredes e coberturas, também chamam a atenção.






O clima em Igatu é ameno, em agosto há um festival de inverno que tem atraído cada vez mais pessoas, fiquei tentado em conhecer esse festival.

Na praça da vila tomamos uma cerveja para comemorar e comemos ovos e batatas cozidas que levamos nas mochilas.  Vimos um cartaz de um turista espanhol que estava desaparecido, a última vez em que foi visto estava indo para o vale o Paty sem guia.






 A descida, não poderia ser diferente, foi fantástica. Muitos trechos técnicos, muita rocha e outros obstáculos, curvas fechadas e abismos nas laterais, cenário perfeito pro “pai do Single” deslizar montanha abaixo.

Quando chegamos ao asfalto, já estávamos com saudade da trilha. Pedalamos então pela rodovia até logo depois da cachoeira Donana entramos à direita para o balneário do rio Paraguaçu. 

Alí depois de um banho de rio fomos comer uma moqueca de apanhari no bar do Márdio, um baiano típico, hospitaleiro e atencioso que pesca o peixe que vende em seu quiosque. O Márdio emprestou a moto ao Bruno para que ele buscasse a caminhonete lá na pousada, pois dali mesmo sairíamos para Mucugê. 

Antes de irmos, o Gilberto  presenteou o Márdio com uma generosa porção de "Carne de Lata", uma iguaria da cozinha mineira.



Rio Paraguaçu

Moqueca no bar do Márdio.




Depois do almoço pegamos a estrada para Mucugê, BA 142. Chegamos em Mucugê no meio da tarde, a tempo de procurarmos uma pousada e ainda fazer um turismo.

Há várias opções de pousadas em Mucugê, um camping que não nos agradou, pousadinhas mais simples, sem garagem e ótimas pousadas com instalações confortáveis e preços razoáveis. Depois de conhecermos algumas opções decidimos pela pousada pé-de-serra. 

A pousada, bem localizada, possui um belo mirante em sua parte de trás, boas acomodações e café da manhã excelente, funcionários atenciosos e o dono, Luis Silveira e sua esposa Juliana, são guias.





A cidade histórica de Mucugê teve início no século XVIII e possui vários casarões de estilo colonial português. A origem do nome da cidade vem de uma fruta da região, que, aliás, produz um licor saboroso.

Contratamos o Luis Silveira, o proprietário da pousada, para ser nosso guia. Saímos cedo de bike para conhecer a cachoeira da Sibéria, dentro do Parque Nacional. Uma estrada linda e com alguns trechos desafiantes, descidas e subidas íngremes, travessias de cursos d’água e muita beleza. A cachoeira possui uma piscina natural ótima para banho, apesar da água estar fria, não resistimos ao chamado do Paraguaçu.










Ainda se pode encontrar moradores nas casas de pedras

Dali voltamos para rodovia e seguimos para o projeto Sempre-viva do Parque Municipal do Mucugê, paga-se uma taxa de visitação, possui lanchonete, loja de souvenir e um museu que preserva a história da flor da sempre-viva, que foi o segundo item de exportação da chapada. As flores foram vendidas para o mundo todo e há um buquê  de 1958 bem preservado – Daí o nome sempre-vivas.


No parque dá para visitar as cachoeiras da Piabinha e  do Tiburtino. A primeira devido à estiagem estava com pouca água, a segunda no entanto era caudalosa. Desce de uma longa cascata e termina em uma piscina excelente para banho. Passeio nota dez.





Sede do projeto Sempre Viva.






Cachoeira do Tiburtino



Com o nosso guia Luis Silveira


Na saída do parque passamos pelo Museu do garimpo de Mucugê, abrigado em uma casa de pedra onde antes morou um naturalista francês e na beira de uma trilha memorável.

Fizemos uma trilha de bike excelente, em um trecho onde foi disputado o prólogo da prova de Mountain Bike Brasil Ride. Essa trilha é um remanescente da antiga Estrada Real da Bahia, que servia para escoar a produção de diamantes. 


Aqui e abaixo, trechos da Estrada Real da Bahia




                                                                              




Voltamos para a cidade para almoçarmos no Restaurante da Dona Nena, ótima comida feita e servida no fogão à lenha. A simpatia da proprietária é uma atração à parte. Ela nos disse que a bicicleta melhorou muito a vida do filho dela que emagreceu e passou a ter uma vida mais saudável devido à pratica do esporte.


                               Com a simpática Dona Nena.


No final da tarde, subimos ao mirante do Cruzeiro que fica atrás o cemitério Bizantino, que também é uma atração turística do lugar. A subida até o cruzeiro é exigente, mas rápida, de lá se tem uma vista linda da cidade de Mucugê, do pôr do sol e do vale do Rio Preto que vem lá do Vale do Capão.

À noite, saímos para tomar uma cerveja artesanal, tomamos uma ótima Stout e uma ótima Weiss, como não pesquisamos antes, o preço foi salgado 28,00 a garrafa, mas o local é que era caro, comprei um litro de licor de Mucugê por 40,00 e depois achei outro ainda melhor por 20,00. Apesar de ser férias de julho, quando a Chapada Diamantina fica repleta de turistas, neste ano o movimento foi afetado pela situação econômica do país. Por um lado foi bom pois conseguimos preços mais justos, mas como o turismo é uma importante fonte de receita em toda a chapada, percebemos que o comércio seria afetado.


                                        O Rio Preto corta o vale


                          Cemitério Bizantino


             

 
Despedimo-nos  de Mucugê e no dia seguinte demos um descanso para as bikes. Fomos conhecer a Cachoeira do Buracão, no Município de Ibicoara, distante 116 km de Mucugê. Combinamos com um guia de Ibicoara, pois somente eles podem guiar para a cachoeira, diária 100,00 para 04 pessoas. Um guia disse que poderíamos levar as bikes na Carretinha até o primeiro portal, distante cerca de 30 km da cidade, resolvemos deixá-las em Ibicoara. Ainda bem que deixamos na cidade! A estrada é muito irregular, balançou muito a camionete, com a carretinha avançaríamos muito mais lentos.




Rumo à Ibicoara


Como nosso guia nos esperaria no primeiro portal da cachoeira que está no parque Municipal do Espalhado, e não há placas indicativas e as informações são meio confusas, erramos a entrada e rodamos muitos quilômetros inúteis. Paramos um carro e conseguimos uma informação mais consistente, tínhamos que voltar mais de 10 Km. Quando chegamos ao portal, nosso guia já estava chateado e nós também, reclamamos da falta de sinalização e relaxamos. Dali foi só alegria.


 A trilha para se chegar à cachoeira é muito bonita, passamos pela cachoeira do buraquinho, cachoeira das orquídeas e a do Recanto Verde que cai de uns 15 m e desaparece em um sumidouro.

 Logo depois chegamos ao cânion da grande atração. A princípio não se vê a cachoeira, existe uma confluência de Cânions. Não fossem pelos turistas, todos trajando coletes coloridos, teríamos a impressão de estarmos em um vale perdido. A água escura e fria com uma espuma branca formando um caminho sobre o rio completava o clima de suspense. Para ir até a cachoeira tem dois caminhos, um por dentro do rio Una e outro atravessando uma pinguela suspensa a uns 08 metros de altura e depois seguindo pelo paredão. Fomos pela água gelada e depois de alguns metros nadando a cachoeira se revela para nós. Um espetáculo de 98 metros de queda dentro de um Cânion formado por rochas que lembram um folheado.


Trekking para a cachoeira do Buracão

Cachoeira do Buraquinho

Cachoeira do Recanto Verde


Cacheira do Buracão








Serra do Sincorá



Nosso quarto em um antigo porão.




Ao todo rodamos de carro 2.958 Km foi muito,  mas valeu a pena
Menos de 200 km de bike, foi pouco mas valeu a pena