segunda-feira, 23 de junho de 2008

1ª. PARTE – A Estrada Real e o início da Trip.



O que leva um sujeito a querer fazer uma viagem de bicicleta, enquanto poderia fazê-la de carro ou de moto? A resposta muitas vezes depende da perspectiva que você quer ter da paisagem, das pessoas e dos costumes. Nas linhas seguintes tentamos responder essa pergunta.

No dia 05 de maio de 2008 meu parceiro de pedaladas Tyrremo e eu acordamos de madrugadinha para rodarmos de carro os cerca de 700 km que separam Unaí, no Noroeste de Minas, da cidade de Ouro Preto na região central do estado. Em Ouro Preto começaria nossa viagem de Bike pela Estrada Real. Optamos por começar fazendo um pequeno trecho pelo Caminho Novo e só depois entrarmos pelo Caminho Velho. Vale lembrar, que a Estrada Real está sendo resgatada pelo Instituto Estrada Real, com o apoio da FIEMG, dos governos de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro e de muitas outras empresas e pessoas. A Estrada Real, tenta resgatar o caminho, ou caminhos, que serviram por quase dois séculos à coroa portuguesa para o escoamento das riquezas minerais extraídas das Minas Geraes.
São reconhecidos atualmente, quatro caminhos, o primeiro, caminho do ouro, chamado de Caminho Velho que liga Ouro Preto à Paraty, foi o primeiro utilizado pelos colonizadores portugueses. Aberto no final do século XVII o Caminho Velho é o mais longo, nele, o ouro descia em direção ao litoral enquanto no sentido interior mercadorias destinadas a abastecer as regiões mineiras subiam a serra no lombo de mulas, índios e escravos negros. Posteriormente, com o descobrimento de diamantes na região onde hoje se localiza a cidade de Diamantina, abriu-se o Caminho dos Diamantes, que se ligara a Ouro Preto para aproveitar aquela rota já bastante conhecida de nossos exploradores. Como a banditismo nasceu com os primeiros homo sapiens, o Caminho Velho tornou-se muito atrativo para saqueadores que atormentavam a vida dos que levavam ouro ou mercadorias por aquele caminho cheio de bocainas e matas de difícil acesso. A coroa portuguesa que tinha aversão às perdas, tratou logo de criar um caminho alternativo, mais curto e de trajeto menos acidentado. Em 1698 a Coroa autorizou o início do novo caminho que ligava Ouro Preto ao Rio de Janeiro, hoje conhecido como Caminho Novo. O quarto caminho, chamado de Sabarabuçu, na verdade uma extensão do caminho velho, que por ter encontrado grande desenvolvimento serviu como entreposto de abastecimento entre o Caminho Velho e o Caminho dos Diamantes. O nome Sabarabuçu é de origem indígena e faz referência ao eldorado tanto procurado pelos bandeirantes. Conta a lenda que uma bandeira ao avistar uma serra de mais 1700 m de altitude, viu seu cume resplandecente e pensaram tratar-se da montanha mítica. Para infelicidade dos tenazes bandeirantes, tratava-se apenas de minério de ferro que brilhava à luz do sol. Hoje, esse caminho perpassa as cidades de Cocais, Caeté e Sabará entre outras, todas de grande riqueza arquitetônica e de riquíssima história. E por falar em história, foi nessa região que aconteceu algumas importantes batalhas da guerra dos emboabas.
Bom a nossa história, ou estória como preferem alguns, é sobre o Caminho Velho, de Ouro Preto a Paraty à bordo de duas Bikes, uma trek modelo 8.000 e uma mais “simplesinha”, a minha, uma Viccini montada para a Estrada Real.
No dia 06 de maio, levantamos cedo, com aquela ansiedade maravilhosa que antecede às partidas. Prendemos a bagagem e começamos a Estrada Real empurrando as Bikes numa enorme ladeira de Ouro Preto que saía da pousada em direção à Praça Tiradentes, lá montamos e começamos a pedalar, afinal, estávamos ali para isso.

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