CIRCUMPEDALADA PELA CHAPADA DOS VEADEIROS - GOIÁS.
DE 20 A 27 DE SETEMBRO DE 2021
Fotos: Rony Von Camargos e Junio Cezar.
O
Mês de setembro de 2021, não se apresentava como um bom mês para fazer uma
viagem de bicicleta pelo bioma do cerrado. A imprensa estava noticiando a pior
seca já registrada na região central do Brasil, incluindo parte de Minas Gerais
e Goiás.
Confesso
que me encontrava meio apreensivo em sair para pedalar na Chapada dos
Veadeiros, um incêndio que havia começado no início do mês no Vale da Lua ainda
incinerava a vegetação seca do cerrado. Uma parte da região da Chapada estava
com o ar carregado de fumaça, isso somado ao ar seco e o baixo volume de água
nos rios e córregos da região, me obrigava a considerar o abortamento dessa viagem.
Alto Paraíso de Goiás |
Paralelo 14 |
Meu parceiro de pedal Junio Cezar, não conhecia a Chapada dos Veadeiros, então deixei pra ele decidir se iríamos ou não. Por causa da pandemia da COVID19, havíamos adiado a partida algumas vezes e acabamos decidindo por ir.
Saímos por volta das 08hs de uma manhã quente e seca e nos hospedamos na Pousada Caminho de Santiago em Alto Paraíso de Goiás, seria o único lugar que dormiríamos em camas, os outros dias, só em barracas.
Alto Paraíso estava com pouca gente, uma das vantagens de chegarmos em uma segunda-feira. Fomos jantar e dormir cedo pra viagem começar logo.
Começamos a pedalar pouco depois das 7:00, as bikes estavam pesadas, levávamos barracas e outros equipamentos de camping, além da carga tradicional de roupas, alimentos e equipamentos.
Pegamos a GO 118 rumo à Teresina de Goiás. Apesar da secura do ar e da falta de chuvas, o pedal começou bem agradável, pedalamos sem pressa rumo ao ponto culminante do Estado de Goiás, o Morro do Pouso Alto com 1.676 m. Passamos no Paralelo 14, o mesmo que passa por Macchu Picchu, o mito diz que a mesma energia de Macchu Picchu no Peru flui também na Chapada dos Veadeiros.
O jeito foi replanejar o almoço para Teresina
de Goiás, mas antes desviamos e fomos tomar banho e lanchar em um rio que passa ali perto.
O
sol estava escaldante quando paramos em Teresina para almoçar, depois do
almoço, fomos para uma praça sombreada e descansamos um pouco antes de
partirmos para Cavalcante, tomamos a GO 241.
No
caminho para Cavalcante os Cajuzinhos do mato abundavam à beira da estrada,
paramos várias vezes para fazer a coleta, nessa época o lanche é garantido.
cajuzinhos do cerrado aos montes. |
O
Asfalto estava ótimo, as máquinas estavam reformando a pista, chegamos por
volta das 16hs na ponte do Rio das Almas distante apenas 4 km da cidade. Ali
montamos acampamento. Aproveitamos que existe um bar no local que faz comida e
ainda garante o fornecimento de cerveja.
O
Rio das Almas é excelente para o banho,
com suas areias brancas e água límpida, na manhã seguinte fizemos o café em um
banco de areia no meio do rio, aproveitando ao máximo aquele agradável
ambiente.
Em
Cavalcante descobrimos que o povoado dos Kalungas estava fechado para visita
devido a um surto da COVID19, foi uma decepção tremenda, naquele povoado o
turista tem acesso às cachoeiras da Santa Bárbara, da Capivara e do Candaru,
todas belíssimas.
Então
tivemos que replanejar o roteiro, resolvemos seguir para o Hotel Fazenda
Veredas, cerca de 7 Km ale do centro da cidade, mas antes, passamos na
Cachoeira do Lava-pés para tomarmos um banho. Antes da ponte vira-se à direita
e percorre um pequeno percurso de estrada e trilha.
Pegamos
a estrada de terra e logo chegamos na cervejaria artesanal Aracê,
agora reformada e com um chope ótimo, ainda não eram nem onze horas, mas
não podíamos perder a oportunidade.
Ao
chegarmos no camping do Hotel Veredas, tivemos a notícia que o incêndio estava
à 7 Km da sede. Mesmo assim resolvemos ficar no camping,(R$ 70,00 por pessoa)
pelo menos ainda não tinha fumaça saturando o ar.
Montamos
as barracas na área que estava um pouco abandonada, mas ainda tinha uma boa
estrutura, banheiros, cozinha com água corrente, energia elétrica e um poço
excelente para banho, aliás, dois poços,
os Oásis do Aleph I e II.
Depois
do acampamento montado, banho de rio tomado, partimos pra conhecer algumas das cachoeiras
da fazenda, são 08 cachoeiras, das quais uma é obrigatório a presença de guia.
No primeiro dia, visitamos a cachoeira
da Veredinha que era a que eu ainda não conhecia. Fomos de bike pela
estrada subindo a serra, uma subida difícil, íngreme e com muita poeira, depois
de subir esse trecho se tem acesso a todas as cachoeiras, durante a subida
fomos vendo vários rastros de animais, antas, quatis, veados e pequenos felinos. A cachoeira da veredinha
fica espremida em um cânion estreito, com uma piscina profunda de águas
escurecidas devido à cor das pedras, nadamos
bastante e visitamos o Cânion.
Deixamos
as outras cachoeiras para o dia
seguinte, fizemos o Downhill que fez
valer todo o esforço da subida.
Partimos
para uma excursão à cervejaria Aracê, distante uns 6 km do nosso acampamento.
Tomamos uma IPA e trouxemos uma pilsem para regar o jantar.
À
noite vimos o incêndio chegar ao topo da serra, o que nos preocupou , acordei
várias vezes para ver o andamento do incêndio, temia que ele chegasse em nosso
acampamento na noite seguinte.
Quando
o dia amanheceu, o incêndio já estava descendo a serra, se ele passasse para o
lado do rio em que estávamos poderia alcançar o acampamento naquela segunda
noite, do outro lado da chapada os brigadistas combatiam as chamas há dezoito
dias.
Saímos
cedo para explorar as outras cachoeiras, fomos de bike até a trilha dos
escravos, que subimos à pé, levamos o fogareiro e os alimentos para fazermos
nosso almoço na beira do rio.
Fomos
a todas as cachoeiras, com exceção da cachoeira da Veredona que exigia a
companhia de um guia. Cachoeiras como a do Poço Encantado, Véu de
noiva, da onça, da Samara e escondidinha estão entre as melhores para banho
daquela região do entorno da Chapada dos Veadeiros.
Depois
de passarmos o dia nas cachoeiras, descemos novamente pela trilha dos
escravos e chegamos ao acampamento e
ainda víamos a serra queimando, por sorte o vento soprava pro alto da serra e a
fumaça não chegava ao acampamento.
À
noite como que por um milagre a chuva
veio, ficamos olhando o incêndio ser apagado. Nosso jantar foi até mais
descontraído e fomos dormir bem mais tranqüilos naquela noite. Do outro lado da
Chapada a chuva ainda não havia chegado, na barraca, conversava pelo
Whatsapp com um brigadista que estava atuando do outro lado. No outro
dia soubemos que naquela madrugada a
chuva apagou todos os incêndios.
Com
um pouco de pesar, desmontamos o acampamento e seguimos rumo ao Povoado do Rio
Preto. Na bela descida da serra do “Vão do Órfão” já víamos o efeito das
chuvas, foi uma descida tranqüila sem a
poeira que normalmente tem ali nessa época do ano.
Paramos
no seu Zé da Chapadinha, tomamos um café com peta, trocamos um dedo de prosa
com ele, com seu filho e um animado cliente que já de manhã manda um trago
goela abaixo e não aceitou a peta com
café que oferecemos alegando que não come nada de manhã.
A
estrada que liga Cavalcante a Colinas do Sul é de muito cascalho e muita
“costela de vaca”, o pedal rende pouco, não há muita subida abrupta, mas esse
terreno não ajuda em nada. O visual é bonito, a estrada é deserta e avistamos
muitas araras, os cajueiros do cerrado começavam a escassear enquanto os pequizeiros abundavam.
Chegamos
ao povoado de Capela pouco depois do meio dia, o sol estava inclemente, no
barzinho do povoado, não havia nada para comer, pedimos o dono para fritar uns
seis ovos e ele disse que só tinha três, comemos compramos água mineral e ele
não quis cobrar os ovos. Fomos fazer uma
cesta na beira do córrego que abastece o povoado, um lugar fresco e agradável,
armamos nossas redes e esperamos o sol baixar um pouco.
A
estrada dali em diante seguia monótona e o cascalho parecia segurar ainda mais
as bicicletas. Chegamos ao povoado do Rio Preto por volta das 17h e logo
começou a chover, paramos em uma venda e enquanto esperávamos, conversávamos
com alguns moradores e conhecemos o Sr. João e sua Esposa Nadir alem de um
violeiro todo orgulhoso de tocar na festa da rainha todos os anos.
Havíamos decidido acampar próximo à ponte, a chuva nos
demoveu da ideia e já nos preparávamos
pra armar as barracas no pátio gramado da pequena escola do povoado.
O
Sr. João insistiu para que acampássemos em sua chácara e não tivemos como
declinar do convite. Tomamos banho no Rio Preto com uma temperatura
inacreditável, fizemos um lanche
oferecido pela Dona Nadir e ficamos conversando até tarde com o Sr. João. Naquela noite caiu um pé d´água.
Na
manhã seguinte tínhamos 28 Km para rodar até Colinas do Sul, depois de rodar
quase 20 km de terra, pegamos o asfalto GO
132 rodamos pouco mais de 8 Km até chegar a Colinas, faltando 2Km meu
pneu traseiro fura. Trocamos a câmara de ar e
fomo lanchar em uma padaria da cidade.
O
Junio falou que havia esquecido uma bolsa com carregadores e alguns
equipamentos em Rio Preto. Desmontamos nossas bagagens para vermos se a bolsa
não estava escondida e o Junio decidiu que arrumaria uma moto para voltar até
Rio Preto para resgatar a bolsa. Decidi que continuaria a viagem até são Jorge,
seriam mais 37 Km de muita subida e muito sol,
o plano era chegarmos a São Jorge por volta das 13 horas para arrumarmos
camping, e talvez fazer uma trilha no
Parque Nacional. Como já havíamos atrasado bastante, decidi que seguiria sozinho até o destino e o Junio iria depois e talvez dormisse em Colinas ou no meio do trajeto. Saí às
11h40min, o sol estava castigando, o trajeto é de muito aclive, sendo que as
duas últimas subidas são as maiores. Cheguei
a São Jorge às 14:30, precisei de quase três horas pra fazer esse
percurso. Fiz uma pesquisa de preços de camping e encontrei variação de 35,00 a 70,00, decidi pelo
Camping do Encontro que cobrava R$ 40,00 por pessoa, Administrado pelo André
que também é brigadista voluntário e atuou contra os incêndios recentes..
O
Junio acabou descobrindo que a bolsa estava dentro de uma mochila em que ele
não havia olhado, só descobriu isso depois de ter ido ao Povoado do Rio Preto
de moto.
Chegou
a São Jorge por volta das vinte horas em baixo de uma chuva fina, pelo menos
não sofreu com o sol.
Junio chegando a São Jorge. |
No
dia seguinte, fizemos as duas trilhas do Parque Nacional nas quais andamos cerca
de 20 Km, foi a primeira vez que fiz as
duas trilhas em um dia. É perfeitamente possível inclusive dá para aproveitar
bem as áreas de banho e os mirantes. O recomendável, no entanto é que se faça
uma trilha por dia, pra fazer com calma e sem exigir muito da condição física.
No
bar do Pelé Junio e eu comemos alguns dos pasteizinhos que já virou marca
registrada do boteco que é um monumento de São Jorge. Mais tarde, fizemos um macarrão "comível" e reparador, acompanhado com um IPA gelada. Nossos vizinhos de camping, a Thainá e o Gustavo, não encararam o macarrão, mas foram uma ótima companhia.
No dia seguinte acordamos às 04:30h, a distância não era tão longa, mas o sabíamos que o sol iria castigar. Já passava das 7:00h e o Junio ainda não havia finalizado sua bagagem, e como ele ainda estava resolvendo alguns problemas particulares, resolvi arrancar na frente.
O
último trecho da pedalada é todo feito em asfalto em ótimo estado de
conservação, são cerca de 36 Km com ciclovia e paisagens memoráveis, um vento
contra garantiu o desafio, no meio do caminho, descobri que o Rancho com teto de palha do Seu Valdomiro já não existe.
Cheguei à Alto Paraíso pouco antes das 11:00h, fiz um lanche e fui para a pousada esperar o Junio, que chegou cerca de 13:00h. A pousada gentilmente nos deixou usar o banho e guardou nosso carro durante aqueles dias.
Pegamos
o carro que ficou na Pousada e voltamos
pra casa.
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