sexta-feira, 18 de setembro de 2020

PEDAL DA INDEPENDÊNCIA - Pelas Cachoeiras do Noroeste de Minas.


O nascer do sol nos guia rumo ao sertão urucuiano- por R. Camargos

 

No Feriado de sete de setembro de 2020, a pandemia do novo coronavírus ainda cerceava a liberdade do brasileiro. Em homenagem à Independência, Junio, Rosival e eu montados em nossas bikes, às margem dos ribeirões  declaramos independência. Para isso tomamos os cuidados necessários, usamos máscaras, o Junio carregava o álcool  em gel, assim como levava a caramanhola. Na maior parte do tempo estaríamos isolados aliando o acampamento com pedaladas. 

Partimos para um bikepacking em busca de cachoeiras nos municípios de Unaí, Uruana de Minas e Arinos. Bikepacking é um termo gringo para o que já fazíamos na adolescência  e que os desprovidos do espírito  aventureiro chamavam de  “programa-de-índio”. Consiste em colocar tudo o que é necessário  para um acampamento nos alforjes da bike e partir atrás de locais para dormir mal, comer mais ou menos, pegar carrapatos e bichos-de-pé e mesmo assim acordar louco para visitar o próximo local e montar outro acampamento.

As cargueiras-                                   por Junio Cezar


Câmera Onboard.

Saímos de Unaí às seis da manhã, rumo às cachoeiras dos córregos do Rosário, Pindaíba e Vereda Funda, conhecidas pelos bikers da região como Quatorze Cachoeiras. Percorremos  cerca de 43 Km de asfalto até chegarmos em uma antiga estrada que atualmente é uma trilha ótima para bicicletas. Os proprietários do local onde estão as cachoeiras não estão permitindo a visita, reclamam daqueles que deixam colchetes abertos e fazem bagunça nas cachoeiras. Os poucos que não respeitam as regras de civilidade prejudicam muitos que tem um gosto genuíno pela natureza. Passamos no córrego para pegar água, refrescar um pouco e seguimos nosso caminho, à frente há uma subida desafiadora, principalmente quando se está carregado com cerca de 18 kg extras de carga.


Esse complexo de cachoeiras era muito frequentado por quem pedala na região, por isso deixo algumas fotos de passeios anteriores, e torço para que os proprietários do local voltem à compartilhar esse pequeno paraíso encravado na serra  do Israel.





Subida da Serra - por R. Camargos



foto: R. Camargos

Cachoeira da Pindaíba -R. Camargos

Cachoeira no ribeirão Vereda Funda- uma das 14 cachoeiras -R. Camargos

foto R. Camargos



Fizemos nosso primeiro camping na cachoeira do pilão de pedra nas margens do ribeirão Jibóia, uma área que até antes da pandemia era aberta ao público e outro lugar que o proprietário resolveu fechar para visitação devido ao mau comportamento de banhistas. Chegamos ao local por volta das 16hs. O Proprietário abriu uma exceção  para nós, acho que ficou com pena depois de ver a bagagem que carregávamos. Nesse primeiro dia de pedal foram mais de 90 Km rodados, subindo serras e vencendo o vento na chapada.

Acampamento no Pilão de Pedra - Junio Cezar



Pilão de pedra -foto Junio Cezar


No dia seguinte saímos bem cedo, para uma visita à cachoeira da Jibóia, primeiro na parte de cima da cachoeira que possui uma ótima piscina para banho e uma bela cascata. Fizemos ali nosso almoço um macarrão bem generoso. Pegamos a velha trilha que desce até a base da cachoeira, essa trilha já está há muito abandonada e não foi fácil encontrá-la. Não recomendo para quem tem alguma dificuldade de locomoção.

Cachoeira da Jibóia parte alta
foto: Junio Cezar

alto da Jibóia_foto Junio Cezar



Alto da Jibóia - Foto. Junio Cezar

A caminho da cachoeira - Junio Cezar
Cachoeira da Jibóia - R. Camargos



A Cachoeira da Jibóia é uma das mais altas da região possui mais de 140 metros de altura e um bom volume de água.

Subimos novamente pela trilha, não sem antes errar uma meia dúzia de vezes, tivemos que recorrer ao GPS do Rosival para vermos por onde havíamos descido. O topo da cachoeira está distante do asfalto cerca de 6 Km de estrada ruim para carros e de boas subidas.

Devido ao horário deixamos de visitar a cachoeira do Buritizinho e seguimos para as margens do rio São Miguel, no Município de Uruana de Minas, um balneário rústico mas muito agradável que também durante  a pandemia está com restrições para banhistas. 


foto J. Cezar


A caminho de Uruana de Minas - J. Cezar


Uruana e Arinos estão no circuito Grande Sertão - foto Rosival
ponte sobre o rio São Miguel - R. Camargos


O rio São Miguel possui um leito raso e repleto de seixos, é um importante afluente do rio Urucuia. No local de nosso acampamento que ficou sendo perto da ponte, há uma passagem para  caminhões atravessarem a vau. Ali mesmo é um local excelente para banhos e o pôr-do-sol se alinha ao leito do rio, o que proporciona uma bela visão.  

Acampamento do São Miguel,  com estrutura e tudo.
Foto: Junio Cezar.


foto: Junio Cezar

Rio São Miguel - foto: J. Cezar.


Saímos cedo,  estávamos  a pouco mais de 5 Km de Uruana de Minas onde paramos para fazer umas compras.  Abastecidos  seguimos por cerca de 17 Km em estrada de terra até o distrito de Sagarana, onde visitamos a cachoeira do Boi Preto que fica em uma reserva do IEF. Já havia visitado o local, mas não me lembrava da saída para a cachoeira, mais uma vez recorremos ao GPS do Rosival. A uns três quilômetros da Vila por uma estradinha de terra bem gostosa de fazer chega-se à entrada da reserva, tem que ter autorização do IEF para entrar. Depois por uma trilha de quase dois quilômetros chega-se na bela cachoeira que forma dois poços principais, em um deles não se pode entrar, pois é onde  capta-se a água que vai para Sagarana. Enquanto conversávamos na beira do córrego, uma cobra despencou  da cachoeira  bem no poço onde momentos antes  estávamos tomando banho, não identificamos a espécie. De cor cinza por cima e amarelada por baixo, a bicha não fugiu da gente, achatou o pescoço e ficou em posição de bote.  O Junior decretou que a bicha era venenosa, pois não fugiu.  Pelo inverso  desse raciocínio, nós que não temos veneno, demos um jeito de caçar o  caminho de volta.  

Cachoeira do Boi Preto - foto: Rosival
Uma visita inesperada- por R. Camargos


Portal do Caminho do Sertão - foto: Rosival


  A vila de Sagarana é um distrito de Arinos, formada pelo segundo assentamento do INCRA em Minas Gerais  no início da década de 70. Todos os anos acontece uma caminhada ecológica, literária e social que parte dalí  e percorre quase 200 km rumo ao Parque Nacional Grande Sertão Veredas. Em 2017 participei deste inesquecível evento que homenageia o escritor João Guimarães Rosa,  no link a seguir pode-se visualizar algumas fotos que tirei durante o percurso. http://prosacomorosa.blogspot.com/ e também pegar algumas informações para participar deste evento que atrai pessoas do Brasil inteiro e de outros países.

Da cachoeira do Boi Preto seguimos direto para a cachoeira da Ilha que fica cerca de 7,5 km da Vila de Sagarana. Chegando ao local tivemos uma surpresa, devia ter uns 40 carros na área da cachoeira. Aglomeração total. O Proprietário do local conhecido como Branco  cobra para acampar e aproveitar a cachoeira no estilo day-use. Ali tem vários locais para banho. O bar aceita encomenda de almoço e jantar e cobra por pessoa, as bebidas tem preços justos. Muitos locais para armar as barracas possuem ponto de energia elétrica, existe banheiro público, mas pelo que pude constatar o mais concorrido é o bom e velho matinho.

Outro fator que desagrega um pouco é a quantidade de sons automotivos, cada surdo aumenta um pouquinho o som de sua "maquina poluidora" e percebi que a qualidade da música é inversamente proporcional aos decibéis. 

No dia seguinte feriado de 7 de setembro, chegaram  de carro nossos amigos Bruno e Nakamura. Já havíamos desmontado acampamento e estávamos à espera para pedalarmos até a cachoeira do Galho que eu ainda não conhecia. Naquele dia nosso café da manhã foi o perfeito sincretismo do roots e o nutella: mandioca com capuccino. Nunca tinha experimentado, mas harmoniza.

Da cachoeira da Ilha à cachoeira do Galho são aproximados 26 Km pelo caminho que conhecíamos. Um belo percurso de pouco movimento e com uma serra bruta, como o clima estava muito quente e seco o cerrado de mata seca com os tinguizeiros  sem folhas,  galhos brancos e retorcidos fazia  o ambiente se assemelhar muito à caatinga nordestina.

Acampamento no ribeirão da Ilha - Foto: J. Cezar



Acampamento na Cachoeira da Ilha: por Rosival




Cachoeira da Ilha - Foto: J. Cezar





no Ribeirão da Ilha: R. Camargos




Estrada antiga do Cercado-Uruana de Minas
foto: J. Cezar




Estrada para a Cachoeira do Galho.- foto: J. Cezar

A cachoeira do Galho é um espetáculo natural, com mais de 120 m de queda em um ribeirão com muita água e ainda pouco visitada. Era o refresco que estávamos esperando. A cachoeira fica em uma propriedade particular. Em Uruana tem alguns guias que levam até lá e já combinam com o proprietário. Nós tivemos a sorte de encontrar o proprietário que nos autorizou a entrar. Caso contrário, teríamos que procurar a casa de uma pessoa que cuida do local.

O acesso à cachoeira é bem desafiador, não é recomendado para quem tenha qualquer dificuldade de locomoção. A piscina natural no pé da cachoeira é rasa e perfeita para nadar, não é recomendado chegar muito próximo à queda, a coluna d´água pode ser imprevisível.

Povoado do Cercado: J. Cezar




Cachoeira do Galho - Uruana de Minas. Foto: J. Cezar


Na Cachoeira do Galho - por Rosival



a partir da esquerda: Júnio Cezar, Rony Von, Bruno e Rosival 

Na volta da cachoeira o proprietário do local no ensinou um atalho por uma velha estrada que hoje é apenas uma trilha. Além de ser um belo trajeto com muitos single tracks encurtou nossa volta em 8 Km, nada mau para quem já estava querendo que o mundo acabasse em descida.

Chegamos na cachoeira da ilha e almoçamos por volta das 16h encarretamos  as bikes e fizemos os 119 Km até a cidade de Unaí.

Nosso trajeto somou 216 Km, visitamos apenas 8 cachoeiras, mas com um pouco mais de tempo, dá pra ver mais de 20 cachoeiras por esse percurso, além de muitos lugares para nadar.

Em Uruana de Minas existem várias cachoeiras, a cachoeira do Marques é outra preciosidade desse percurso, par quem tiver interesse em pedalar por essa região ou mesmo visitar as cachoeiras, deixo aqui alguns contatos para facilitar o passeio.

Gilberto: Unaí - 38-99809-8585

Mara  –  Guia Uruana de Minas - fone: 38-99825-0164 

Matheus – Guia Uruana 38-99940-4756

Cachoeira da Ilha – Branco: 38-99961-1716 e 38-99925-7339

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