sábado, 30 de outubro de 2021

 CIRCUMPEDALADA PELA CHAPADA  DOS VEADEIROS - GOIÁS.

DE 20 A 27 DE SETEMBRO DE 2021

Fotos: Rony Von Camargos e Junio Cezar.

 

O Mês de setembro de 2021, não se apresentava como um bom mês para fazer uma viagem de bicicleta pelo bioma do cerrado. A imprensa estava noticiando a pior seca já registrada na região central do Brasil, incluindo parte de Minas Gerais e Goiás.

Confesso que me encontrava meio apreensivo em sair para pedalar na Chapada dos Veadeiros, um incêndio que havia começado no início do mês no Vale da Lua ainda incinerava a vegetação seca do cerrado. Uma parte da região da Chapada estava com o ar carregado de fumaça, isso somado ao ar seco e o baixo volume de água nos rios e córregos da região, me obrigava a considerar o abortamento dessa viagem.


Alto Paraíso de Goiás




Paralelo 14



Meu parceiro de pedal Junio Cezar, não conhecia a Chapada dos Veadeiros, então deixei pra ele decidir se iríamos ou não.  Por causa da pandemia da COVID19, havíamos adiado a partida algumas vezes e acabamos decidindo por ir.

Saímos por volta das 08hs de uma manhã quente e seca e nos hospedamos na Pousada Caminho de Santiago em Alto Paraíso de Goiás, seria o único lugar que dormiríamos em camas, os outros dias, só em barracas.

Alto Paraíso estava com pouca gente, uma das vantagens de  chegarmos em uma segunda-feira.  Fomos jantar e dormir cedo pra viagem começar logo.

Começamos a pedalar pouco depois das 7:00, as bikes estavam pesadas, levávamos barracas e outros equipamentos de camping, além da carga tradicional de roupas,  alimentos e equipamentos.

Pegamos a GO 118 rumo à Teresina de Goiás. Apesar da secura do ar e da falta de chuvas, o pedal começou bem agradável, pedalamos sem pressa rumo ao ponto culminante do Estado de Goiás, o Morro do Pouso Alto com 1.676 m. Passamos no Paralelo 14, o mesmo que passa por Macchu Picchu, o mito diz que a mesma energia de Macchu Picchu no Peru flui também na Chapada dos Veadeiros.




Na pousada da cachoeira do  Poço Encantado, estávamos apenas de passagem, a ideia era pararmos  ali para almoçar e seguir viagem. Na portaria, a funcionária só deixava passar a cancela se pagássemos 40,00 por pessoa. Não íamos utilizar a cachoeira, porém, faríamos um gasto considerável com comida. Em 2016 quando fiz esse cicloturismo circundando a Chapada, o responsável  pela portaria nos deixou entrar, almoçamos e no retorno ainda voltamos com nossas esposas para ficarmos na cachoeira.  Entendo que a pousada deixa de ganhar 40,00 por pessoa e perde outra receita ainda maior, sem falar no Marketing negativo.



 O jeito foi replanejar o almoço para Teresina de Goiás, mas antes desviamos e fomos tomar banho e lanchar em um rio que  passa ali perto.

O sol estava escaldante quando paramos em Teresina para almoçar, depois do almoço, fomos para uma praça sombreada e descansamos um pouco antes de partirmos para Cavalcante, tomamos a GO 241.

No caminho para Cavalcante os Cajuzinhos do mato abundavam à beira da estrada, paramos várias vezes para fazer a coleta, nessa época o lanche é garantido.


cajuzinhos do cerrado aos montes.

O Asfalto estava ótimo, as máquinas estavam reformando a pista, chegamos por volta das 16hs na ponte do Rio das Almas distante apenas 4 km da cidade. Ali montamos acampamento. Aproveitamos que existe um bar no local que faz comida e ainda garante o fornecimento de cerveja.

O Rio das Almas  é excelente para o banho, com suas areias brancas e água límpida, na manhã seguinte fizemos o café em um banco de areia no meio do rio, aproveitando ao máximo aquele agradável ambiente.


Em Cavalcante descobrimos que o povoado dos Kalungas estava fechado para visita devido a um surto da COVID19, foi uma decepção tremenda, naquele povoado o turista tem acesso às cachoeiras da Santa Bárbara, da Capivara e do Candaru, todas belíssimas.



Então tivemos que replanejar o roteiro, resolvemos seguir para o Hotel Fazenda Veredas, cerca de 7 Km ale do centro da cidade, mas antes, passamos na Cachoeira do Lava-pés para tomarmos um banho. Antes da ponte vira-se à direita e percorre um pequeno percurso de estrada e trilha.

Pegamos a estrada de terra e logo chegamos na cervejaria artesanal  Aracê,  agora reformada e com um chope ótimo, ainda não eram nem onze horas, mas não podíamos perder a oportunidade.




Ao chegarmos no camping do Hotel Veredas, tivemos a notícia que o incêndio estava à 7 Km da sede. Mesmo assim resolvemos ficar no camping,(R$ 70,00 por pessoa) pelo menos ainda não tinha fumaça saturando o ar.



Montamos as barracas na área que estava um pouco abandonada, mas ainda tinha uma boa estrutura, banheiros, cozinha com água corrente, energia elétrica e um poço excelente  para banho, aliás, dois poços, os Oásis do Aleph I e II.





Depois do acampamento montado, banho de rio tomado,  partimos pra conhecer algumas das cachoeiras da fazenda, são 08 cachoeiras, das quais uma é obrigatório a presença de guia. No primeiro dia, visitamos a cachoeira  da Veredinha que era a que eu ainda não conhecia. Fomos de bike pela estrada subindo a serra, uma subida difícil, íngreme e com muita poeira, depois de subir esse trecho se tem acesso a todas as cachoeiras, durante a subida fomos vendo vários rastros de animais, antas, quatis, veados e  pequenos felinos. A cachoeira da veredinha fica espremida em um cânion estreito, com uma piscina profunda de águas escurecidas devido à cor das pedras, nadamos  bastante e visitamos o Cânion.




Deixamos as outras cachoeiras  para o dia seguinte, fizemos o Downhill  que fez valer todo o esforço da subida.



Partimos para uma excursão à cervejaria Aracê, distante uns 6 km do nosso acampamento. Tomamos uma IPA e trouxemos uma pilsem para regar o jantar.






À noite vimos o incêndio chegar ao topo da serra, o que nos preocupou , acordei várias vezes para ver o andamento do incêndio, temia que ele chegasse em nosso acampamento na noite seguinte.



Quando o dia amanheceu, o incêndio já estava descendo a serra, se ele passasse para o lado do rio em que estávamos poderia alcançar o acampamento naquela segunda noite, do outro lado da chapada os brigadistas combatiam as chamas há dezoito dias.











Saímos cedo para explorar as outras cachoeiras, fomos de bike até a trilha dos escravos, que subimos à pé, levamos o fogareiro e os alimentos para fazermos nosso almoço na beira do rio.


Fomos a todas as cachoeiras, com exceção da cachoeira da Veredona que exigia a companhia de um guia.   Cachoeiras como a do Poço Encantado, Véu de noiva, da onça, da Samara e escondidinha estão entre as melhores para banho daquela região do entorno da Chapada dos Veadeiros.

Depois de passarmos o dia nas cachoeiras, descemos novamente pela trilha dos escravos  e chegamos ao acampamento e ainda víamos a serra queimando, por sorte o vento soprava pro alto da serra e a fumaça não chegava ao acampamento.

À noite  como que por um milagre a chuva veio, ficamos olhando o incêndio ser apagado. Nosso jantar foi até mais descontraído e fomos dormir bem mais tranqüilos naquela noite. Do outro lado da Chapada a chuva ainda não havia chegado, na barraca, conversava pelo Whatsapp  com um brigadista  que estava atuando do outro lado. No outro dia soubemos que naquela  madrugada a chuva apagou todos os incêndios.

Com um pouco de pesar, desmontamos o acampamento e seguimos rumo ao Povoado do Rio Preto. Na bela descida da serra do “Vão do Órfão” já víamos o efeito das chuvas, foi uma descida  tranqüila sem a poeira que normalmente tem ali nessa época do ano.







Paramos no seu Zé da Chapadinha, tomamos um café com peta, trocamos um dedo de prosa com ele, com seu filho e um animado cliente que já de manhã manda um trago goela abaixo e não aceitou  a peta com café que oferecemos alegando que não come nada de manhã.


A estrada que liga Cavalcante a Colinas do Sul é de muito cascalho e muita “costela de vaca”, o pedal rende pouco, não há muita subida abrupta, mas esse terreno não ajuda em nada. O visual é bonito, a estrada é deserta e avistamos muitas araras, os cajueiros do cerrado começavam a escassear  enquanto os pequizeiros  abundavam.


Chegamos ao povoado de Capela pouco depois do meio dia, o sol estava inclemente, no barzinho do povoado, não havia nada para comer, pedimos o dono para fritar uns seis ovos e ele disse que só tinha três, comemos compramos água mineral e ele não quis cobrar os ovos.  Fomos fazer uma cesta na beira do córrego que abastece o povoado, um lugar fresco e agradável, armamos nossas redes e esperamos o sol baixar um pouco.



A estrada dali em diante seguia monótona e o cascalho parecia segurar ainda mais as bicicletas. Chegamos ao povoado do Rio Preto por volta das 17h e logo começou a chover, paramos em uma venda e enquanto esperávamos, conversávamos com alguns moradores e conhecemos o Sr. João e sua Esposa Nadir alem de um violeiro todo orgulhoso de tocar na festa da rainha todos os anos.


Havíamos  decidido acampar próximo à ponte, a chuva nos demoveu da ideia e já  nos preparávamos pra armar as barracas no pátio gramado da pequena escola do povoado.

O Sr. João insistiu para que acampássemos em sua chácara e não tivemos como declinar do convite. Tomamos banho no Rio Preto com uma temperatura inacreditável,  fizemos um lanche oferecido pela Dona Nadir e ficamos conversando até tarde com o Sr. João.  Naquela noite caiu um pé d´água.


Na manhã seguinte tínhamos 28 Km para rodar até Colinas do Sul, depois de rodar quase 20 km de terra, pegamos o asfalto GO  132 rodamos pouco mais de 8 Km até chegar a Colinas, faltando 2Km meu pneu traseiro fura. Trocamos a câmara de ar e  fomo lanchar em uma padaria da cidade.





O Junio falou que havia esquecido uma bolsa com carregadores e alguns equipamentos em Rio Preto. Desmontamos nossas bagagens para vermos se a bolsa não estava escondida e o Junio decidiu que arrumaria uma moto para voltar até Rio Preto para resgatar a bolsa. Decidi que continuaria a viagem até são Jorge, seriam mais 37 Km de muita subida e muito sol,  o plano era chegarmos a São Jorge por volta das 13 horas para arrumarmos camping, e   talvez fazer uma trilha no Parque Nacional. Como já havíamos atrasado bastante,  decidi que seguiria sozinho até o destino  e o Junio iria depois e talvez dormisse  em Colinas ou no meio do trajeto. Saí às 11h40min, o sol estava castigando, o trajeto é de muito aclive, sendo que as duas últimas subidas são as maiores. Cheguei  a São Jorge às 14:30, precisei de quase três horas pra fazer esse percurso. Fiz uma pesquisa de preços de camping e encontrei  variação de 35,00 a 70,00, decidi pelo Camping do Encontro que cobrava R$ 40,00 por pessoa, Administrado pelo André que também é brigadista voluntário e atuou contra os incêndios recentes..


O Junio acabou descobrindo que a bolsa estava dentro de uma mochila em que ele não havia olhado, só descobriu isso depois de ter ido ao Povoado do Rio Preto de moto.

Chegou a São Jorge por volta das vinte horas em baixo de uma chuva fina, pelo menos não sofreu com o sol.


Junio chegando a São Jorge.

No dia seguinte, fizemos as duas trilhas do Parque Nacional nas quais andamos cerca de 20 Km,  foi a primeira vez que fiz as duas trilhas em um dia. É perfeitamente possível inclusive dá para aproveitar bem as áreas de banho e os mirantes. O recomendável, no entanto é que se faça uma trilha por dia, pra fazer com calma e sem exigir muito da condição física.








No bar do Pelé Junio e eu comemos alguns dos pasteizinhos que já virou marca registrada do boteco que é um monumento de São Jorge. Mais tarde, fizemos um macarrão "comível" e reparador, acompanhado com um IPA gelada. Nossos vizinhos de camping, a Thainá e o Gustavo, não encararam o macarrão, mas foram uma ótima companhia.

No dia seguinte acordamos às 04:30h, a distância não era tão longa, mas o sabíamos que o sol iria castigar. Já passava das 7:00h e o Junio ainda não havia finalizado sua bagagem, e como ele ainda estava resolvendo alguns problemas particulares, resolvi arrancar na frente. 

O último trecho da pedalada é todo feito em asfalto em ótimo estado de conservação, são cerca de 36 Km com ciclovia e paisagens memoráveis, um vento contra garantiu o desafio, no meio do caminho, descobri que o Rancho com teto de palha do Seu Valdomiro já não existe.

Cheguei à Alto Paraíso  pouco antes das 11:00h, fiz um lanche e fui para a pousada esperar o Junio, que chegou cerca de 13:00h. A pousada gentilmente nos deixou usar o banho e guardou nosso carro durante aqueles dias.

Pegamos o carro que ficou na Pousada  e voltamos pra casa.