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O nascer do sol nos guia rumo ao sertão urucuiano- por R. Camargos |
No Feriado de sete de setembro de 2020, a pandemia do novo
coronavírus ainda cerceava a liberdade do brasileiro. Em homenagem à
Independência, Junio, Rosival e eu montados em nossas bikes, às margem dos ribeirões declaramos independência. Para isso
tomamos os cuidados necessários, usamos máscaras, o Junio carregava o
álcool em gel, assim como levava a
caramanhola. Na maior parte do tempo estaríamos isolados aliando o acampamento
com pedaladas.
Partimos para um bikepacking em busca de cachoeiras nos
municípios de Unaí, Uruana de Minas e Arinos. Bikepacking é um termo gringo
para o que já fazíamos na adolescência e
que os desprovidos do espírito aventureiro
chamavam de “programa-de-índio”.
Consiste em colocar tudo o que é necessário
para um acampamento nos alforjes da bike e partir atrás de locais para
dormir mal, comer mais ou menos, pegar carrapatos e bichos-de-pé e mesmo assim
acordar louco para visitar o próximo local e montar outro acampamento.
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As cargueiras- por Junio Cezar
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Câmera Onboard.
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Saímos de Unaí às seis da manhã, rumo às cachoeiras dos
córregos do Rosário, Pindaíba e Vereda Funda, conhecidas pelos bikers da região
como Quatorze Cachoeiras. Percorremos
cerca de 43 Km de asfalto até chegarmos em uma antiga estrada que
atualmente é uma trilha ótima para bicicletas. Os proprietários do local onde
estão as cachoeiras não estão permitindo a visita, reclamam daqueles que deixam
colchetes abertos e fazem bagunça nas cachoeiras. Os poucos que não respeitam
as regras de civilidade prejudicam muitos que tem um gosto genuíno pela
natureza. Passamos no córrego para pegar água, refrescar um pouco e seguimos
nosso caminho, à frente há uma subida desafiadora, principalmente quando se está carregado
com cerca de 18 kg extras de carga.
Esse complexo de cachoeiras era muito frequentado por quem
pedala na região, por isso deixo algumas fotos de passeios anteriores, e torço
para que os proprietários do local voltem à compartilhar esse pequeno paraíso encravado
na serra do Israel.
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Subida da Serra - por R. Camargos |
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foto: R. Camargos |
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Cachoeira da Pindaíba -R. Camargos |
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Cachoeira no ribeirão Vereda Funda- uma das 14 cachoeiras -R. Camargos |
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foto R. Camargos |
Fizemos nosso primeiro camping na cachoeira do pilão de
pedra nas margens do ribeirão Jibóia, uma área que até antes da pandemia era
aberta ao público e outro lugar que o proprietário resolveu fechar para
visitação devido ao mau comportamento de banhistas. Chegamos ao local por volta
das 16hs. O Proprietário abriu uma exceção
para nós, acho que ficou com pena depois de ver a bagagem que
carregávamos. Nesse primeiro dia de pedal foram mais de 90 Km rodados, subindo
serras e vencendo o vento na chapada.
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Acampamento no Pilão de Pedra - Junio Cezar |
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Pilão de pedra -foto Junio Cezar
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No dia seguinte saímos bem cedo, para uma visita à
cachoeira da Jibóia, primeiro na parte de cima da cachoeira que possui uma
ótima piscina para banho e uma bela cascata. Fizemos ali nosso almoço um
macarrão bem generoso. Pegamos a velha trilha que desce até a base da
cachoeira, essa trilha já está há muito abandonada e não foi fácil encontrá-la.
Não recomendo para quem tem alguma dificuldade de locomoção.
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Cachoeira da Jibóia parte alta foto: Junio Cezar
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alto da Jibóia_foto Junio Cezar |
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Alto da Jibóia - Foto. Junio Cezar |
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A caminho da cachoeira - Junio Cezar
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Cachoeira da Jibóia - R. Camargos |
A Cachoeira da Jibóia é uma das mais altas da região possui
mais de 140 metros de altura e um bom volume de água.
Subimos novamente pela trilha, não sem antes errar uma meia
dúzia de vezes, tivemos que recorrer ao GPS do Rosival para vermos por onde
havíamos descido. O topo da cachoeira está distante do asfalto cerca de 6 Km de
estrada ruim para carros e de boas subidas.
Devido ao horário deixamos de visitar a cachoeira do
Buritizinho e seguimos para as margens do rio São Miguel, no Município de
Uruana de Minas, um balneário rústico mas muito agradável que também durante a pandemia está com restrições para
banhistas.
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foto J. Cezar |
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A caminho de Uruana de Minas - J. Cezar |
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Uruana e Arinos estão no circuito Grande Sertão - foto Rosival |
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ponte sobre o rio São Miguel - R. Camargos |
O rio São Miguel possui um leito raso e repleto de seixos,
é um importante afluente do rio Urucuia. No local de nosso acampamento que
ficou sendo perto da ponte, há uma passagem para caminhões atravessarem a vau. Ali mesmo é um
local excelente para banhos e o pôr-do-sol se alinha ao leito do rio, o que
proporciona uma bela visão.
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Acampamento do São Miguel, com estrutura e tudo. Foto: Junio Cezar. |
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foto: Junio Cezar |
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Rio São Miguel - foto: J. Cezar. |
Saímos cedo,
estávamos a pouco mais de 5 Km de
Uruana de Minas onde paramos para fazer umas compras. Abastecidos
seguimos por cerca de 17 Km em estrada de terra até o distrito de
Sagarana, onde visitamos a cachoeira do Boi Preto que fica em uma reserva do
IEF. Já havia visitado o local, mas não me lembrava da saída para a cachoeira,
mais uma vez recorremos ao GPS do Rosival. A uns três quilômetros da Vila por
uma estradinha de terra bem gostosa de fazer chega-se à entrada da reserva, tem
que ter autorização do IEF para entrar. Depois por uma trilha de quase dois
quilômetros chega-se na bela cachoeira que forma dois poços principais, em um
deles não se pode entrar, pois é onde capta-se a água que vai para Sagarana. Enquanto conversávamos na beira do córrego, uma cobra despencou da cachoeira bem no poço onde momentos antes estávamos tomando banho, não identificamos a
espécie. De cor cinza por cima e amarelada por baixo, a bicha não fugiu da gente,
achatou o pescoço e ficou em posição de bote.
O Junior decretou que a bicha era venenosa, pois não fugiu. Pelo inverso
desse raciocínio, nós que não temos veneno, demos um jeito de caçar o caminho de volta.
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Cachoeira do Boi Preto - foto: Rosival |
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Uma visita inesperada- por R. Camargos |
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Portal do Caminho do Sertão - foto: Rosival |
A vila de Sagarana
é um distrito de Arinos, formada pelo segundo assentamento do INCRA em Minas
Gerais no início da década de 70. Todos
os anos acontece uma caminhada ecológica, literária e social que parte
dalí e percorre quase 200 km rumo ao
Parque Nacional Grande Sertão Veredas. Em 2017 participei deste inesquecível
evento que homenageia o escritor João Guimarães Rosa, no link a seguir pode-se visualizar algumas
fotos que tirei durante o percurso. http://prosacomorosa.blogspot.com/
e também pegar algumas informações para participar deste evento que atrai
pessoas do Brasil inteiro e de outros países.
Da cachoeira do Boi Preto seguimos direto para a cachoeira
da Ilha que fica cerca de 7,5 km da Vila de Sagarana. Chegando ao local tivemos
uma surpresa, devia ter uns 40 carros na área da cachoeira. Aglomeração total.
O Proprietário do local conhecido como Branco
cobra para acampar e aproveitar a cachoeira no estilo day-use. Ali tem vários locais para
banho. O bar aceita encomenda de almoço e jantar e cobra por pessoa, as
bebidas tem preços justos. Muitos locais para armar as barracas possuem ponto
de energia elétrica, existe banheiro público, mas pelo que pude constatar o
mais concorrido é o bom e velho matinho.
Outro fator que desagrega um pouco é a quantidade de sons automotivos, cada surdo aumenta um pouquinho o som de sua "maquina poluidora" e percebi que a qualidade da música é inversamente proporcional aos decibéis.
No dia seguinte feriado de 7 de setembro, chegaram de carro nossos amigos Bruno e Nakamura. Já
havíamos desmontado acampamento e estávamos à espera para pedalarmos até a
cachoeira do Galho que eu ainda não conhecia. Naquele dia nosso café da manhã
foi o perfeito sincretismo do roots e o nutella: mandioca com capuccino.
Nunca tinha experimentado, mas harmoniza.
Da cachoeira da Ilha à cachoeira do Galho são aproximados
26 Km pelo caminho que conhecíamos. Um belo percurso de pouco movimento e com
uma serra bruta, como o clima estava muito quente e seco o cerrado de mata seca
com os tinguizeiros sem folhas, galhos brancos e retorcidos fazia o ambiente se assemelhar muito à caatinga
nordestina.
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Acampamento no ribeirão da Ilha - Foto: J. Cezar |
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Acampamento na Cachoeira da Ilha: por Rosival |
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Cachoeira da Ilha - Foto: J. Cezar |
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no Ribeirão da Ilha: R. Camargos |
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Estrada antiga do Cercado-Uruana de Minas foto: J. Cezar |
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Estrada para a Cachoeira do Galho.- foto: J. Cezar |
A cachoeira do Galho é um espetáculo natural, com mais de 120 m de
queda em um ribeirão com muita água e ainda pouco visitada. Era o refresco que estávamos esperando. A cachoeira
fica em uma propriedade particular. Em Uruana tem alguns guias que levam até lá
e já combinam com o proprietário. Nós tivemos a sorte de encontrar o
proprietário que nos autorizou a entrar. Caso contrário, teríamos que procurar
a casa de uma pessoa que cuida do local.
O acesso à cachoeira é bem desafiador, não é recomendado
para quem tenha qualquer dificuldade de locomoção. A piscina natural no pé da
cachoeira é rasa e perfeita para nadar, não é recomendado chegar muito próximo
à queda, a coluna d´água pode ser imprevisível.
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Povoado do Cercado: J. Cezar |
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Cachoeira do Galho - Uruana de Minas. Foto: J. Cezar
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Na Cachoeira do Galho - por Rosival |
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a partir da esquerda: Júnio Cezar, Rony Von, Bruno e Rosival |
Na volta da cachoeira o proprietário do local no ensinou um
atalho por uma velha estrada que hoje é apenas uma trilha. Além de ser um belo
trajeto com muitos single tracks
encurtou nossa volta em 8 Km, nada mau para quem já estava querendo que o mundo
acabasse em descida.
Chegamos na cachoeira da ilha e almoçamos por volta das 16h
encarretamos as bikes e fizemos os 119
Km até a cidade de Unaí.
Nosso trajeto somou 216 Km, visitamos apenas 8 cachoeiras, mas com um pouco mais de tempo, dá pra ver mais de 20 cachoeiras por esse percurso, além de muitos lugares para nadar.
Em Uruana de Minas existem várias cachoeiras, a cachoeira
do Marques é outra preciosidade desse percurso, par quem tiver interesse em
pedalar por essa região ou mesmo visitar as cachoeiras, deixo aqui alguns
contatos para facilitar o passeio.
Gilberto: Unaí - 38-99809-8585
Mara – Guia Uruana de Minas - fone: 38-99825-0164
Matheus – Guia Uruana 38-99940-4756
Cachoeira da Ilha – Branco: 38-99961-1716 e 38-99925-7339