O Caminho do Sabarabuçu- Estrada Real.
O Caminho do Sabarabuçu é o
trecho mais difícil e complicado da Estrada Real, no entanto, é um caminho que
alia desafio, beleza e tudo que a Estrada Real oferece: História, gastronomia,
cachoeiras, paisagens deslumbrantes,
cultura e muito pedal.
O Sabarabuçu no século XVIII foi
um caminho alternativo que a coroa portuguesa utilizava para atingir áreas
auríferas e para abastecimento dessas áreas de mineração.
A palavra Sabarabuçu é de origem
tupi, que em tradução livre significa algo como “Grande braço de Pai”. Uma
alusão ao rio Sabará que seria um braço do Rio das Velhas, que o índios
chamavam de Guaicuí.
O Caminho do Sabarabuçu tem como
percurso as cidades e povoados de Cocais – Morro Vermelho – Caeté – Sabará –
Raposos – Honório Bicalho – Rio Acima -Acuruí – Glaura.
O que atraiu os antigos
bandeirantes para aquelas paragens é lógico, foi a grande riqueza mineral
indiciada pelas lendas do Itaberabussu (grande pedra que brilha). O Eldorado
buscado pelo caçador das esmeraldas – Fernão Dias seguido por seus dois filhos,
José Dias e Garcia Paes e de seu genro o também lendário Borba Gato. A grande
pedra que brilha é hoje o que conhecemos como a Serra da Piedade. Ocorre que
devido a sua formação mineral, rica em minério de ferro a montanha reflete a
luz do sol de uma forma que fazia os antigos indígenas acreditar que era uma
montanha mágica, cheia de tesouros.
Fernão Dias morreu nos sertões do
rio das Velhas em 1.681, depois de passar por muitas agruras, vencer um terreno
difícil, enfrentar os índios mapaxós e nunca ter encontrado sua lagoa das
esmeraldas. No entanto consolidou uma região que viria a ser riquíssima em ouro e outros minérios e
deixou para os ciclistas e caminhantes um percurso memorável que arrepia a cada
descida e a cada trilha.
No dia 08 de junho 2014 depois de
8 horas de ônibus até BH, peguei o trem de ferro BH –Vitória, com destino a
Barão de Cocais – Estação dois irmãos.
Um pouco menos de duas horas depois da partida do trem, chegava à
estação de Barão de Cocais. Peguei um coletivo, que já aguardava o trem e fui para
o centro da cidade me hospedar. No mesmo dia fiz o reconhecimento do primeiro
marco. O Caminho que liga Barão de Cocais ao Distrito de Cocais é um pedaço do
caminho dos Diamantes, que fiz em 2010. Queria pedalar de novo por aquelas
estradas. Saí na segunda-feira dia 09, a saída ficou meio confusa, uma vez que
não encontrei alguns dos marcos apontados pela planilha. Seguindo as
referências da planilha e a lembrança de ter passado em determinados pontos,
segui um caminho que passa por baixo da linha do trem e logo encontrei o outro
marco.
O Trem para Barão de Cocais.A bike ainda embalada para viagem
novos marcos (os marquinhos) do CRER- Circuito Religioso da Estrada Real |
De Barão de Cocais para Cocais |
No Sítio Arqueológico da Pedra Pintada - Cocais |
O caminho já começa com uma
subida pelo eucaliptal da Celibra, uma subida com alguns trechos calçados com
pedras, que já de manhã me fez suar tanto que parecia que chovia da testa para
baixo.
Passei novamente pelo Sítio
arqueológico da Pedra Pintada. Vale a parada para comprar e degustar o vinho de
jabuticaba, esse trecho já foi descrito no post do caminho dos diamantes. Por
fim, depois de 12 Km, cheguei a Cocais.
Cocais - Caeté
Em cocais Começa para valer o
Caminho do Sabarabuçu. A saída também requer um pouco de atenção, dos cinco
moradores que perguntei sobre a estrada para Caeté, todos responderam que só
chegaria lá seguindo pela BR. O marco inicial está em frente à igreja de
Santana, na estrada que leva ao povoado de Antônio dos Santos. O trecho atravessa
muitas matas de eucaliptos e matas nativas. As planilhas marcam 39,55 Km meu odômetro
marcou 41,08 Km, essas variações se devem a algumas voltas para conferir
marcos, para se chegar a determinado mirante, um desvio para ver um córrego e
coisas desse tipo. As planilhas são bem precisas e dá para confiar piamente
nelas. Quando marcarem uma subida forte pode se preparar, pois quando
demonstram um leve aclive esse já é de “queimar as coxas”.
Nesse trecho podemos avistar a serra da piedade se destacando entre outros montes, as subidas são daquelas para lembrar que estamos na região das gerais. Como a Estrada Real já me domou faz tempo, não tenho o menor pudor em empurrar a bike subida acima, para quem faz o caminho completo carregando a própria bagagem isso é rotina.
Dados do dia, velocidade média de apenas 11,1 Km/h, minha bagagem tinha aproximados 14 kg. E a meta não é fazer um enduro. A máxima foi de 44,1 Km, nas descidas, não dá para soltar os freios, sob-risco de perder a bagagem. Cair em uma viagem solo e sem apoio, pode ser o fim das viagens. O tempo de pedalada efetiva foi de 3h41 m, mas o tempo gasto para chegar a Caeté foi de cerca de 6 horas. Em caeté paguei 50,00 de hotel, jantar a 12,50 e gastei 14,00 de lanches e água no percurso
o Sabarabuçu ao fundo |
Povoado de Antônio dos Santos em Caeté. Uma parada para abastecer |
No segundo dia, Caeté a Sabará.
Saí às sete horas da manhã,
seguindo rumo à antena de celular. Subida logo cedo que é pra mostrar pras
pernas o que vem pela frente. Nesse dia resolvi que o percurso seria curto, de
apenas 31 km, queria ficar mais tempo em Sabará. Os marcos estão na estrada que
leva a Morro Vermelho. (ver nesse blog
descrição sobre os lugares). Morro Vermelho está a apenas 9 Km de Caeté e tem a
primeira igreja de alvenaria do Brasil, na qual Aleijadinho iniciou sua
carreira.
Nesse trecho, segui a recomendação
da planilha e não peguei a trilha no Km 21, que está em estado precário. Segui
um pouco a pé pela trilha e pude constatar que realmente não dá para fazê-la
com alforjes, ela se encontra em muitos pontos logo no início, tomada por mato
e cipós. Mais adiante, no alto do morro dá para ter uma noção do quão a trilha
é difícil, em um terreno muito
acidentado e com mata espessa, desce por um vale muito profundo e em seguida
sobe a serra. O próximo marco seguindo pela estrada volta a aparecer lá pelo Km
27,7.
Cheguei à Sabará às 12 horas em
ponto, mas visitei alguns pontos turísticos antes de achar uma pousada, que
naquele dia já estavam todas inflacionadas devido à copa do mundo e muitas já
não tinham vagas. Dei sorte e me hospedei em um Hostel chamado Solarium, em uma
suíte de primeira.
Meu odômetro marcou 36,10 Km com
média de 12,1 km/h e max de apenas 27,9 e tempo efetivo de pedaladas de
2h03m32s, mas percorri o trecho em 05 horas.
Paguei de pousada 80,00, mas no
hostel tem quartos a partir de 50,00. Almocei por 14,50 à vontade. Jantei um
macarrão alho e óleo por 12,00 e gastei outros 22,00 com lanches e água.
Trilha do marco 2137 -A planilha alerta como inadequada |
Trecho atravessado pela trilha acima mencionada |
Chafariz de Morro Vermelho |
Morro Vermelho |
Terceiro dia – Sabará-Raposos- Honório Bicalho - Rio Acima.
A saída de Sabará até agora foi a
mais fácil, deve ser para compensar o dia que seria difícil.
A pouco mais de 3 km do primeiro
marco chega-se ao Arraial velho, que até hoje os moradores chamam de roça
grande. Pois foi ali que os bandeirantes paulistas criaram as primeiras roças
que se destinavam a suprir as bandeiras em busca de ouro e esmeraldas. Ali se
encontra a igreja de Santana erigida provavelmente entre 1749 e 1756. Não
consegui entrar na pequena igreja, o que foi uma pena. A igreja possui um
interessante mata-burro de pedra. Depois
de cerca de 7 Km chega-se a uma casa de uma
antiga fazenda, ao lado da casa uma porteira de ferro que dá acesso a
uma pequena e antiga trilha, que liga à uma estrada que pelo visto passa nos
terrenos de uma mineradora.
Rua do Arraial Velho - Roça Grande |
Mata burro |
Igreja de Santana |
A estrada que segue depois do
Arraial Velho é quase uma trilha que sobe, sobe... e sobe um pouco mais. Até
Raposos são 12,3 km, parei para tomar um
lanche e visitar a igreja, enquanto lanchava,
e estava à toa na vida, vi a banda passar... A igreja matriz de Nossa
Senhora da Conceição possui um interior simples mas bonito, uma moradora me
contou que a igreja já possuiu obras de arte e
muito altar coberto de ouro.
Esse trecho possui as ruínas de
uma casa de pedra que deve ser da época do ciclo do ouro.
Casa de Pedra com idade não definida |
vista Parcial de Raposos |
Ruína de casa da época da exploração do ouro |
Antiga passagem próxima à casa da Fazenda da foto abaixo. |
Marco 2033 |
De Raposos continuei seguindo as
planilhas rumo a Honório Bicalho. Saí
por um bairro chamado Morro das bicas logo ao chegar ao alto do morro,
começa-se uma trilha muito gostosa de pedalar, que segue margeando um antigo
rego d’água, uma trilha plana e bem sombreada. Essa trilha segue por cerca de 2
km, em seguida entra-se em outra trilha, essa requer mais cuidado, trata-se de
uma trilha técnica com descidas perigosas, em muitos lugares com valas
profundas. Depois de se chegar ao vale, a subida que temos pela frente é bem
desafiadora. Para piorar a situação, eu me descuidei e perdi minha planilha.
Não quis arriscar seguir sem ela, e
resolvi voltar dois marcos atrás, cerca de 1,5 km subindo, encontrei a planilha
na trilha, mas me cansei muito. Esse trecho
eu considero que foi de mais de 10 km de trilha, pois os pequenos trechos que a
planilha chamou de estrada, eu considero trilha, pois acho que só dá para andar
de carro se for 4x4.
De Honório Bicalho a Rio Acima
são mais 9.6 km, margeando o rio das Velhas, o antigo Guaicuí dos índios. Passei ainda pela ponte da estrada de ferro
D. Pedro II. O trecho possui uma topografia bem favorável e agradável ao
ciclista cansado.
Neste terceiro dia de pedaladas
as planilhas marcavam 35,23 KM rodados, rodei 38,63 Km, como fui zerando o odômetro,
não pude fazer o registro das parciais. Saí de Sabará às 07h10m e cheguei ao
destino às 14h22m, a cidade possui poucas pousadas, só fiquei sabendo de duas
dentro da cidade, peguei a primeira que achei, quarto muito simples, com café
da manhã idem, valor R$ 50,00, jantei por R$ 15,90 e gastei 24,00 com lanches e
água.
Marco 2059 - Saindo de uma trilha para entrar em outra |
Trilha Descendo |
Trilha subindo |
Ótima trilha no meio do mato - descendo |
Muro de pedra sem data definida |