sábado, 25 de maio de 2019

ESTRADA REAL- CAMINHO DOS DIAMANTES 2019





ESTRADA REAL 2019
CAMINHO DOS DIAMANTES 


Texto: Rony Von R. Camargos
Fotos: Rony Von R. Camargos e Junio Cezar


Catedral de Diamantina-Foto: Junio Cezar

Fazendo o reconhecimento.
Estátua de JK.





Pela primeira vez saí para a Estrada Real com certo receio. Os  rompimentos de duas barragens de rejeitos na região, não deixam de assombrar quem se dispõe a fazer o Caminho. No dia em que saímos havia rumores de que a barragem da mina de Gongo Soco em Barão de Cocais estivesse instável.


Esse medo se refletiu na quantidade de caminhantes, só encontramos uma dupla de ciclistas de Brasília e Goiânia em toda a viagem.


O mês de abril foi bem chuvoso e neste início de maio de 2019 ainda está chovendo na região. Essa atenção com as barragens nos obrigou a enxergá-las em meio às belas paisagens do caminho. Antes o que podia até passar despercebido, agora era avistado com precedência às montanhas, serras e matas.


Quem trilha algum caminho da Estrada Real, invariavelmente vai querer trilhar outro, ou mesmo repetir algum caminho. Aqueles que trilham novamente algum dos quatro caminhos instituídos carregarão para sempre a deliciosa sensação de que somos capazes de vencer adversidades  já conhecidas em momentos diferentes da vida.  As imensas subidas, o sol inclemente, o frio enregelante,  os erros cometidos e perigos que nem nos daremos conta.


Assim, meu amigo Junio Cezar e eu fomos de carro até Diamantina no coração do vale do Jequitinhonha, lá montamos nossas bikes para mais uma jornada pela Estrada Real. Pela primeira vez o Junio faria o Caminho dos Diamantes, enquanto eu repetia a dose.


Como sempre, imprimimos as planilhas do Instituto Estrada Real para fazer à moda dos navegadores de enduro. Abominamos os “tracks” baixados da internet. Vamos seguir a trilha dos bons e velhos “marcos”, para nós os “Marcões”.


Resolvemos pegar nossos passaportes, como o Junio não salvou ou imprimiu seu cadastro, tivemos que esperar algumas horas até que uma pessoa mais atenciosa pudesse resolver o impasse. Enquanto isso, saímos para fazer turismo na bela e pitoresca Diamantina. Patrimônio da Humanidade pela UNESCO é também a cidade de Chica da Silva e Juscelino Kubistchek.


Em Diamantina, a visita à igreja Nossa Senhora do Carmo revela um tesouro da arquitetura colonial e da arte barroca-rococó do final do século XVIII. Construída por ordem do desembargador João Fernandes de Oliveira na época em que vivia com Chica da Silva. Dizem os moradores que a torre do sino foi construída nos fundos da Igreja para não incomodar o sono da amante do desembargador.


Uma fina garoa caía gélida e constante, insuficiente porém, para nos impedir de tomar uma cerveja para brindar nossa chegada ao Caminho dos Diamantes.   


Fomos dormir tarde naquela noite, na manhã seguinte sairíamos cedo para pedalar os 65 km do primeiro trecho.


No dia 03 de maio, sexta-feira o clima convidava para um pedal. Saímos em direção à Catedral de Diamantina, ali é o ponto inicial do Caminho dos Diamantes. Embora o Junio torcesse para não chover pois vinha de uma recuperação da saúde muito recente, a previsão era de 20mm.


Passamos pela Casa da Chica da Silva, pela Pousada Garimpo e logo encontramos o marco  247. Minha primeira surpresa foi descobrir que o trecho até o povoado do Vau estava praticamente  todo asfaltado.  Depois constataria que o caminho recebeu muito asfalto desde 2010 quando o fiz pela primeira vez.


Fachada da Igreja Nossa Senhora do Carmo -1760-1765


Interior da igreja Nossa Senhora do Carmo

Antigo Mercado Municipal de Diamantina -1835;
Antigo Rancho de tropas






vista do Pico do Itambé a partir do asfalto.

Para o cicloturista o caminho perdeu uma boa parte do charme, aquelas imensas descidas e subidas multicores que tínhamos que fazer devagar e com a atenção redobrada ganharam o negrume do asfalto e as descidas agora são rápidas e sem paradas.  

No entanto, o caminho continua belo e desafiante. Paramos no Vau para um lanche rápido, tomamos um  suco de goiaba e comemos umas broas de fubá em um posto de atendimento ao turista. Pegamos um trecho de terra até São Gonçalo do Rio das Pedras.


Tapera de Taipa a beira da estrada - Foto:Junio Cezar

Um pouco antes da ponte do rio Jequitinhonha à esquerda uma porteirinha de ferro é a indicação do antigo caminho dos tropeiros. Embora não se tenha muitas informações históricas sobre esse trecho calçado de grandes pedras, é consenso que se trata de um caminho muito antigo usado para galgar a íngreme serra que dá acesso a São Gonçalo. 

Ponte sobre o rio Jequitinhonha-Foto: Junio Cezar

Ponte sobre o rio Jequitinhonha




O Junio teve dificuldades nesse trecho, o sol estava muito quente, ele carregava mais peso que eu e ainda não havia recuperado totalmente sua saúde. Paramos no bar do Adonil onde nos reidratamos, carimbamos nossos passaportes e descansamos um pouco. Com isso não visitamos a cachoeira do Comércio.  Vale uma parada mais demorada para visitar a cachoeira.


São Gonçalo do Rio das Pedras (iniciado por volta de 1730) é um daqueles povoados que apresentam muitas surpresas, seus muros de pedras construídos por escravos no período colonial, a casa da dona Chiquinha que possui uma bela figura pintada no teto, a igreja Matriz construída provavelmente em 1787. A matriz estava fechada desta vez, em outra oportunidade tive a sorte de vê-la por dentro, o teto possui uma pintura de São Gonçalo. A singela capela de Nossa Senhora do Rosário está na saída do povoado.


foto: Junio Cezar


Fomos bem devagar até Milho Verde distante pouco mais de 5 km de São Gonçalo. Milho Verde é outro ponto muito representativo do Caminho dos Diamantes. No Século XVIII havia ali um registro rigidamente vigiado pelos Dragões de Minas, os guardas responsáveis por impedir a evasão de qualquer riqueza do distrito diamantino e a entrada de qualquer pessoa sem autorização do intendente-geral. Por volta de 1818 os naturalistas Spix e Von Martius tiverem que esperar alguns dias no arraial de Três Barras a permissão para passar por Milho Verde.


Foto: Junio Cezar







Cachoeira do Carijó.

Igreja de Milho Verde.



Antigo Chafariz em Milho Verde.


“Santo Antônio do Tejuco, distante quarenta léguas de Vila Rica, reclina-se no declive oriental em terraços de um monte, em cujo sopé corre o Ribeirão de Santo Antônio, e é um dos arraiais mais florescentes do Brasil” Spix e Von Martius. 1818

 Nem o estabelecimento de uma diocese era permitido, para evitar possível influência dos padres sobre moradores, trabalhadores e escravos da região diamantina.


“Única na História é essa ideia de isolar uma região, na qual toda a vida civil foi subordinada à exploração de um bem exclusivo da coroa”. Spix e Von Martius.







Antigo Calçamento do caminho  dos tropeiros

Foto: Junio Cezar









Igreja do Povoado de Capivari

Pico do Itambé (2.002 m) a partir de Capivari

o pequeno povoado do Capivari com o pico do Itambé ao Fundo


Cachoeira do Moinho Velho em Capivari. 


Cachoeira do Tempo Perdido - Capivari


Quando subíamos a ladeira para a sair de Três Barras, passou por nós dois ciclistas levando sua bagagem nas costas, era o Tatá de Brasília e o Odilon de Goiânia. Nos encontraríamos várias vezes pelo caminho. 

Conversamos um pouco e logo os dois nos deixaram pra trás, subiram em ritmo de maratona. Mais a frente descobriríamos que eu e o Tatá já havíamos nos encontrado na Estrada Real. Em 2015 quando fizemos o Caminho do Ouro, na descida da Serra do Mar  eu e Zequinha nos encontramos com Tatá e seus amigos Dentinho e uma Garota subindo a Serra de Paraty.  Tatá nos contou que seu amigo Dentinho faleceu naquele mesmo ano em um acidente durante uma corrida de bike nos Estados Unidos. Foi pra nós uma triste notícia, o Junio já conhecia a história desse acidente, para mim foi uma novidade triste. 



Chegamos ao Serro, antiga Vila do Príncipe para os brancos e para os indígenas Ivituruí - Serra Fria, já eram quase dezessete horas e queríamos carimbar os passaportes no centro de atendimento ao turista. Com os carimbos fomos nos hospedar na pousada dos Queijos, bons quartos por um preço bem em conta.

O Serro merece um dia dedicado ao passeio, não foi nosso caso desta vez. mas já fiz outras visitas a esta bela cidade.

Há vários atrativos históricos  e naturais na região, destaque para a Chácara do Barão do Serro, uma bela mansão do século XIX, o Museu da família Ottoni. Teófilo Ottoni e Cristiano Ottoni se destacaram na Política. Teófilo foi derrotado em uma batalha pelo Duque de Caxias que na época (1842) era Barão de Caxias. A capela de Santa Rita no alto da escadaria de pedra sabão e o casario colonial, a cidade na verdade é um museu em si mesma.


vista noturna do centro do histórico do Serro
Chácara do Barão do Serro

Pátio da Casa do Barão do Serro


foto: Junio Cezar

Museu dos Ottoni em Serro

Junio; Tatá, Odilon e Rony Von- Serro- Foto: Junio Cezar





Acordamos bem cedo e tomamos café-da-manhã em uma padaria e seguimos rumo a Alvorada de Minas. Fazia frio e a cidade estava deserta, só um cachorro tentou correr atrás de minha bike mas desistiu logo pois a subida era forte e ele assim como eu estava com as juntas frias.

Alvorada de Minas é uma daquelas pequenas cidades que pode passar despercebida para quem está pedalando. Possui a igreja de Santo Antônio, antiga, mas sem data de construção conhecida, possui ainda a Igreja do Rosário com aquela beleza simples típica das "do Rosário". Em Alvorada de Minas há uma bela pousada, a recanto da Coruja, passamos lá para carimbar o passaporte e tomar uma água. A pousada está a cerca de 19 km do Serro, possui um bom restaurante e uma vista impressionante da região. Depois de Alvorada, paramos em frente a uma bela fazenda para fazermos um lanche, o proprietário que estava saindo de carro, conversou conosco e até ofereceu pouso caso em outra ocasião viéssemos a precisar.

Recanto da Corujo- Foto: Junio Cezar

Seguimos rumo à Itapanhoacanga, neste trecho fizemos uma conversão em 90 graus  na MG 10 para mais à frente virarmos à esquerda em uma estradinha vicinal. São 17 km de boas subidas e belas paisagens até chegamos em Itapanhoacanga, paramos na velha igreja de São José(1746) que merece ser restaurada e protegida. Quando o naturalista francês Auguste de Saint-Hilaire esteve lá em entre 1816 e 1822 ele já alertou para a necessidade de se preservar aquela igreja. 

Decidimos almoçar no restaurante do Bil, o Fogo e Sereno, fomos muito bem recebidos e fizemos um descanso providencial. Almoçar ali foi muito importante pois logo depois pegamos a imensa subida que separa Itapanhoacanga de Tapera.




Igreja de Itapanhoacanga dedicada a São José de 1746



No alto da serra de Itapanhoacanga


Foto: Junio Cezar





uma das fortes subidas da Serra de Itapanhoacanga para Tapera.
A subida tem cerca de 5 km  é bem íngreme mas não é para assustar, é belíssima. O sol encoberto pelas nuvens também foi um fator facilitador.  O alto da serra oferece uma vista fascinante, impossível não ficar um tempo admirando aquela cena. O tempo todo víamos a chuva caindo em locais que havíamos passado e nesse dia não tomamos chuva alguma, coloquei o abrigo de chuva mais pelo frio que pela umidade. 

A descida também é deliciosa, mas requer cuidado. O piso é de terra e quando molhado é muito escorregadio. Para quem não está com alforges e em dias secos é um excelente Downhill.  Não era nosso caso, descemos "piano piano".

Fizemos uma parada rápida em Santo Antônio do Norte - Tapera. Tomei um açaí, passamos em uma pousada para carimbarmos os passaportes e seguimos em direção à Córregos, onde já chegamos ao final da tarde. Duas das poucas pousadas estavam sem atendimento e então ficamos na Pousada Boa Esperança do Seu Antônio. Em Tapera encontramos de novo com nossos amigos o Tatá e o Odilon, eles nos contaram que tomaram uma boa chuva, nós só assistimos à chuva do alto da serra. ficamos todos na Pousada Boa Esperança.   


O perigo do rompimento de barragens ronda as cidades históricas














Foto: Junio Cezar

Foto: Junio Cezar


Capela de Santana em Córregos possui registros de 1745.






Naquele dia decidimos andar apenas 23 km de um caminho fácil até Conceição do Mato Dentro, seria nosso dia de recuperação muscular.

Chegamos bem cedo, andando por um bom trecho de asfalto. Fomos nos hospedar na casa do Homero, ele aluga quartos em seu casarão de mais de duzentos anos. Ele nos contou que estava restaurando seu porão e encontrou diversas peças antigas inclusive de uso de escravos.

Fizemos um passeio pela cidade, almoçamos no mercado central, provamos vários tipos de queijos maturados e pegamos um táxi para a cachoeira do tabuleiro, pagamos 100 reais para nós dois. 

Um pedal para o tabuleiro pode ser muito penoso as subidas são brutais e a cachoeira está distante mais de 20 km do centro de Conceição, são subidas fortes tanto para ir quanto para voltar.


largo do Rosário em Conceição do Mato Dentro. A capela data de 1730




Cachoeira do Tabuleiro (273 m de altura)

Igreja Sagrado Coração de Jesus do Povoado do Tabuleiro


Cadeia Velha 

Artesãos nômades em Conceição do Mato Dentro,
pediram para ser fotografados.




Enquanto esperávamos o jantar, chegou o carro de apoio.



Casa do Homero, hospedagem em um casarão de mais de 200 anos


O trajeto desse quarto dia de jornada vai até Itambé do Mato Dentro, distante 62 Km de conceição, depois de 5km de asfalto pegamos a estrada de terra bem batida e sem poeira. Rodamos 27 km até Morro do Pilar, uma pequena cidade que oferece estrutura para receber o caminhante.

Almoçamos em Morro do Pilar no restaurante Terra de Minas onde carimbamos os passaportes. Mal engolimos a comida e saímos  pela bela estrada que liga Morro do Pilar a Itambé do Mato Dentro. 

O percurso traz algumas subidas longas e  ensolaradas, margeamos os rios Preto de Baixo  e Preto de Cima além do rio do Peixe. É um trecho puxado, mas muito aprazível.
Paramos no meio de uma longa subida embaixo de uma raríssima sombra para fazermos um lanche, comemos uma goiabada cascão comprada em Conceição do Mato Dentro.


Antigas fazendas garantem o ar pitoresco do Caminho


Chegamos em Itambé já escurecendo, depois de subidinhas intermináveis chega a vez de descer, aí é hora de aliviar a poupança. 

Depois de sondarmos algumas opções de hospedagem, encontramos com nossos amigos Tatá e Odilon eles foram se hospedar na Pousada Lava-pés e nós depois de procurarmos em umas três pousadas e pensões que não tinham vagas ou não tinha ninguém para nos atender, fomos pra ótima pousada Portal do Itambé. Quase não conseguimos nos hospedar pois  não havia um funcionário sequer na pousada. Por sorte a única hóspede da pousada se dispôs a ligar para a gerente e por telefone fizemos nosso check-in.



Itambé do Mato Dentro




Nossa água havia acabado e esse riacho nos salvou.
havíamos levado pastilhas de purificar água.



O quinto dia de pedaladas prometia. Tomamos o café comprado no dia anterior na padaria de um senhor muito mal humorado mas que tinha um funcionário bem gente boa, que chama todo mundo de "gente boa". 

Navegamos em um asfalto bem facilitador por 15 km até Senhora do Carmo onde cheguei doido pra tomar um café. Voltinha rápida pela pequena cidade e logo estávamos em uma estrada de terra rumando para  Ipoema. Passamos pela entrada da Serra dos Alves, avistamos a igrejinha do Morro Redondo e logo um calçamento que não havia em 2010 anunciou a chegada a Ipoema, o pequeno e belo distrito de Itabira.

Fiquei um pouco decepcionado, o museu do tropeiro estava fechado  para restauração, o asfalto novo tirou um pouco aquele ar de cidade antiga, mas entendemos que esses avanços são bons para a população. Fomos até a pousada Quadrado carimbar os passaportes.  

A pousada é muito boa e estava a 80,00 por pessoa, para quem quiser ficar em Ipoema é uma boa sugestão.

Almoçamos no restaurante do Paulinho, ótima comida, depois de uma boa conversa e um café com rapadura seguimos para Bom Jesus do Amparo.

Cachoeira alta de Ipoema, vista bem de longe.
tem 110 m de queda

Ipoema, distrito de Itabira

Santuário do Senhor do Bonfim no alto do Morro Redondo 



Monumento ao Tropeiro em Ipoema

interior da Igreja de Bom Jesus do Amparo

Imagem vinda da cidade de Amparo em Portugal.

A ideia inicial era dormirmos em Cocais no final desse dia, mas, quis o destino que ficássemos em Bom Jesus do Amparo. Com isso rodamos apenas 45 Km, nos hospedamos em um hotel novinho, o KR Hotel(55,00 para quem está fazendo a Estrada Real, café-da-manhã simplicíssimo), fica bem perto da Igreja do Senhor Bom Jesus, construída entre 1841 e 1858. A imagem do altar foi trazida de Amparo em Portugal e é um orgulho dos moradores da cidade 

Em Bom Jesus, conhecemos o Fernando Gonçalves, funcionário da prefeitura na área do turismo. Um entusiasta da Estrada Real. O Fernando tem livros de assinaturas de caminhantes que passam por Bom Jesus, e ele carimba o passaporte. Embora não seja um carimbo oficial do Instituto Estrada Real, para nós ficou sendo um dos mais importantes carimbos do Caminho, pois é fruto do entusiasmo e dedicação de um morador dessa região emblemática para os pedalantes. o Fernando nos contou várias estórias e histórias do caminho o que sem dúvida só serviu para enriquecer nossa experiência.

Infelizmente nessa noite o Junio recebeu a notícia do falecimento de uma tia, o que o deixou meio pra baixo. Saímos naquela manhã do dia 07 de maio um pouco tarde, já passava das 08 horas. No entanto, só andaríamos 24 km até Cocais. Por intermédio do Fernando, fizemos uma reserva na Pousada das Cores de propriedade do Everton.

Esse trecho requer alguma atenção na travessia  da BR 381, quer seja pelo movimento da BR ou mesmo  pela disposição dos marcos que podem induzir ao erro.





Foi um trecho fácil, passamos por um eucaliptal bem sombreado e que dependendo do horário deve ser sombrio. Passamos cedo é foi muito tranquilo.   Chegamos cedo conhecemos a pousada e o Everton que nos recebeu muito bem, contou um monte de histórias e nos mostrou sua produção de vinagre de jabuticaba que tem muitas aplicações, sua produção de doces, pó de tomate, cúrcuma, o açafrão da terra  e assim descobrimos porque ele é conhecido como o alquimista de cocais. Não só por isso, o homem é um excelente cozinheiro e suas auxiliares idem.

Aproveitamos o percurso mais  curto e fomos relaxar as pernas, fizemos uma caminhada de uns 15 km, indo ao sítio arqueológico da pedra Pintada e duas cachoeira da região. (aquela máxima, enquanto descansa, carrega pedra)

Fomos almoçar/jantar às 16h. e comemos um excelente frango com quiabo e seus acompanhamentos e ainda um prato de língua de boi ao molho de jabuticaba, excelente!

Já era noite quando fomos dar uma volta pela povoado e encontramos  o Tatá e o Odilon que haviam acabado de chegar em cocais e se hospedaram na pousada Vila Cocais. Eles saíram de Itambé do Mato Dentro distante 70,67 Km, erraram o caminho próximo da BR381 e com isso acabaram chegando à noite. Tomamos um cerveja para comemorar esse dia excepcional.







Igreja do Rosário em Cocais




foto: Junio Cezar

por Junio Cezar


 









Junio, Ewerton e Rony. Pousada das Cores em Cocais.




No Sítio Arqueológico de Pedra Pintada
O sítio arqueológico da Pedra Pintada é um belo atrativo do caminho, estudado pelo dinamarquês  Peter Lund no século XIX, possui pinturas rupestres de 7.000 anos. Quem se interessar pelo assunto pode ver mais clicando aqui 2010.










O distrito de Cocais faz parte do Município de Barão de Cocais e pelas rodovias está cerca de 100 Km de Belo Horizonte.  Além da Igreja do Rosário que é uma bela igreja Barroca, Cocais possui um casario colonial bem preservado, o museu de Fernando Toco que foi um minerador da localidade merece uma visita. No Casarão do Cartório, um belo imóvel tombado, eles também carimbam  os passaportes.

Como havia muita neblina na região decidimos seguir o conselho do Everton de sair depois do café-da-manhã, assim, quando os pneus das magrelas começaram a girar já eram mais de 8 horas. 

A neblina havia se dissipado um pouco, mas  foi o suficiente para tomarmos uma verdadeira chuva quando descíamos a serra no meio de um eucaliptal em direção à Barão de Cocais. Os menos de 15 Km que separam Cocais de Barão de Cocais é um passeio belíssimo, primeiro as estradinhas multicoloridas com áreas preservadas, as regiões das cachoeiras e por fim a descida pela serra no meio da mata de eucaliptos em muitos trechos calçada de pedras. 

Logo na chegada da cidade o Junio parou para fazer umas fotos e acabamos nos separando. Fui para a Igreja de São João Batista de 1785 ricamente adornada. A escultura da facha é do artista barroco Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho. No interior há uma pintura do Mestre Ataíde, os altares são folheados a ouro. Depois de muito esperar, resolvi ir para o ponto final daquela planilha que é em frente à rodoviária da cidade. Descobri que o Junio havia passado por ali há uns dez minutos. Fui encontrá-lo a meio caminho de Santa Bárbara. 








De Barão de Cocai à Santa Bárbara são cerca 14 Km de um percurso fácil. Santa Bárbara é um ótimo lugar para ficar um dia ou mais, além das atrações da arquitetura e arte barroca e rococó, como a Igreja de Santo Antônio iniciada em 1713 com pintura no teto atribuída ao mestre Ataíde. O centro histórico muito bem preservado convida a apear das cavalgaduras para passear a pé. O memorial Afonso Pena, a Igreja Nossa Senhora do Rosário, a Cadeia pública que hoje é um museu dentre outros locais que pedem uma visita. De Santa Bárbara chega-se facilmente a outra joia da Estrada Real, o santuário do Caraça. 

Em frente à Igreja de Santo Antônio em Santa Bárbara.


Ao fundo a antiga Cadeia de Santa Bárbara.






Desta vez não fomos ao Caraça, mas, para quem tem um dia a mais de viagem  não deixe de ir  para dormir nos alojamentos anexos ao Santuário Nossa Senhora Mãe dos Homens, uma bela construção neogótica de 1883. O Caraça hoje oferece na pousado do Santuário 41 apartamentos confortáveis além de outras estruturas para hospedagem, há ainda a pousada do Engenho distante 11 km da parte histórica e dentro do parque natural, a pousada possui ótimos quartos. A noite os lobos-guarás vão comer nas escadarias da igreja. Já fiquei na pousada Engenho e na pousada do Santuário, ambas excelentes. o Parque possui diversas trilhas que levam a cachoeiras, lagos e picos, alguns dos mais altos de Minas Gerais. Uma experiência imperdível ficar alguns dias no Caraça.


 


Depois do almoço em Santa Bárbara, passamos em um lava-jato para tirar o barro e a areia da relação das bikes. Em seguida saímos para os 20,6 km até Catas Altas. O percurso começa em asfalto e depois de 2,7 km pegamos uma estradinha de terra para logo à frente pegarmos uma trilha de pouco mais de 1,5 km e aí seguir apenas por terra. 

No meio do percurso  encontramos com o Tatá e Odilon e seguimos juntos. Alguns quilômetros adiante  chegamos ao bicame de pedra, trata-se de um aqueduto de 1792 que servia para levar água para o garimpo do ouro. As ruínas  ainda tem  uma estrutura formidável, aproveitei pra fazer um lanche enquanto explorávamos o local.  

Logo depois do bicame de pedra pega-se uma entradinha à esquerda, entretidos na conversa, passamos direto. Começamos a subir uma serra bem íngreme. Depois de muito subir comuniquei ao Júnio e ao Odilon que suspeitava que estávamos errados, nisso o Tatá já estava bem mais acima. Eu e o Júnio já tínhamos decidido que iríamos voltar, o Odilon sugeriu seguir adiante confiante que a estrada desceria para Catas Altas.

Nesse ínterim, surge uma camionete cheia de trabalhadores de uma mina da Vale. Caras fechadas, nos avisam que ali era propriedade da mineradora e que a estrada terminava na mina logo adiante. Faltavam quinze minutos para as 17hs. e eles avisaram que às 17 fecham o portão. Descemos a serra com os freios soltos até o último marco e dali pegamos o caminho certo. 

Nesse vacilo andamos cerca de uma hora a mais, não foi perda de tempo, pois o lugar era muito bonito, mas é para poucos, só para a mineradora.



Tatá, Rony, Odilon e Júnio

No bicame de pedra em Catas Altas (1792)


Entroncamento logo após o bicame de pedra


Chegamos à Catas Altas  escurecendo, Tatá e Odilon escolheram  uma pousada e Júnio e eu ficamos na pousada Laetitia (80,00) por pessoa, os preços em Catas Altas já sofrem influência da proximidade de Ouro Preto e da capital.

A noite fomos tomar umas cervejas e comemos um frango com Ora-pro-nóbis excelente em um restaurante chamado Primórdios dos Tempos, ambiente gostoso e pessoal atencioso.
Igreja Nossa Senhora da Conceição (1750)- Catas Altas


Na sexta-feira dia 10 de maio acordamos às 05 horas, tomamos uma café na padaria às 06h,  e, vinte minutos depois estávamos atravessando um pequeno riacho na saída de Catas Altas. Era o último dia de pedaladas seriam 75 km para chegar a Ouro Preto. Pouco mais de 6 Km pedalados e chegamos a Morro de Água Quente, fizemos algumas fotos  e seguimos rumo à Santa Rita Durão - distrito de Mariana.





à caminho de Morro de Água Quente


Capela de Morro de Água Quente

Em Santa Rita Durão, distante  pouco mais de 18 Km de Catas Altas, paramos para tomar um café e conversar com os moradores sobre a passagem por Bento Rodrigues. Um disse que só poderia passar nos sábados e domingos, outros dois disseram que nas sextas-feiras também  a passagem é permitida.

Em frente à igreja de Nossa Senhora de Nazaré tem uma placa indicando uma continuação alternativa para o Caminho dos Diamantes, decidimos ignorá-la e seguimos o trajeto original.

A Samarco já havia destruído o distrito de Bento Rodrigues, não  seria justo que ela destruísse também um pedaço do Caminho dos Diamantes.

Igreja Nossa Senhora de Nazaré - Santa Rita Durão



Igreja do Rosário em Santa Rita Durão
Depois de cerca de 13 quilômetros percorridos chegamos na primeira portaria da mineradora, o pessoal deixou passar e pediu para que não entrássemos na parte histórica do povoado.

Se não fosse trágico teria sido cômico. Que parte histórica?  Então a lama não havia destruído tudo em 2015? somente a parte alta do distrito estava menos devastada, mas abandonada como uma cidade fantasma.

Na parte alta do povoado ainda persiste a igrejinha de Nossa Senhora das Mercês, mas a capela de São Bento do século XVIII foi totalmente destruída.

Enquanto estávamos atravessando a terra arrasada, os alto-falantes anunciaram uma simulação de alerta de rompimento de barragens. No início uma mensagem informava que  era apenas uma simulação que não havia perigo, em seguida as sirenes soaram. Mesmo sendo uma simulação causou arrepios, fiquei pensando no desespero das pessoas se uma sirene dessa soar devido ao rompimento de outra barragem.

Parte mais alta de Bento Rodrigues, hoje uma cidade fantasma



Marco próximo a Bento Rodrigues.
Capela de São Bento do século XVIII, foi totalmente destruída pelo rompimento da Barragem
foto de 2010




Vista parcial do que sobrou de Bento Rodrigues



O belo e sombreado caminho que leva até o povoado de Camargos serviu para nos descontrair depois daqueles momentos em Bento Rodrigues, mais uns 14 km e chegamos ao antigo povoado com sua  velha igreja de Nossa Senhora da Conceição iniciada em 1707. Em frente uma cruz feita em pedra-sabão em estilo único.


Saindo de Camargos andamos mais 18 Km pela bela estrada, passando em frente à fazenda Tesoureiro que pertenceu ao primeiro Barão de Camargos, depois tem uma subidinha disfarçada que impede a viagem de render, mais um motivo para parar e fazer um lanche. No cardápio, bananada de Cocais com sanduíches de queijo.

Chegamos a Mariana por volta do meio dia, a cidade estava movimentada saímos do trajeto indicado pela planilha e acabamos andando um pouco na contra-mão, não recomendo fazer isso.

Fomos parar na emblemática Praça Minas Gerais onde estão a antiga Câmara e Cadeia e as igrejas de São Francisco de Assis e de Nossa Senhora do Carmo. Nessa praça em frente às duas igrejas, havia um pelourinho que deve ter sido muito utilizado. Sempre me impressiona como muitas atitudes humanas parecem uma provocação à Deus.

Hoje um museu, já foi a cadeia da cidade

à esquerda réplica do pelourinho.


Mariana foi a primeira vila de Minas Gerais, nossa primeira capital e o centro formador do Estado. Além de seu excelente centro histórico, é possível ouvir o órgão do século XVIII na Catedral de Nossa Senhora da Assunção (1704). Ótimos restaurantes servem os melhores pratos da culinária mineira. Quem está em Ouro Preto pode pegar o trem turístico que sai de quarta a domingo, pode-se comprar os bilhetes só ida ou ida e volta e estes variam de 46,00 a 100,00 reais(inteira). Vale pagar mais pelo carro panorâmico.
















Praça da Sé

Catedral Nossa Senhora da Assunção, início da rua Direita.

Almoçamos em um self-service na Praça da Sé, mais em conta que os da Praça Gomes Freire (antiga praça da Independência), e nos dirigimos até a Igreja de São Pedro dos Clérigos (1731) e de lá seguimos para o trevo da MG 262. Passamos antes em um supermercado para abastecer de água e isotônicos, dá para pegar uma ciclovia até chegar a MG 262 e assim se livrar de um trânsito pesado na saída. De Mariana a Ouro Preto só tem uma subida, o problema é que ela começa em Mariana e só termina um pouquinho antes de chegar na Praça Tiradentes em Ouro Preto. São 11 Km com um acostamento bem estreito e carros cujos motorista na maioria dos casos não têm a menor educação. 





Igreja São Pedro dos Clérigos (1731)



Chegamos a Ouro Preto por volta das  16h30m. Na entrada da cidade o trânsito estava tumultuado, mas logo nos vimos na Praça Tiradentes, a sensação de cumprimento de uma jornada não tem preço.  Fomos primeiro no Centro de Atendimento ao Turista, carimbar os passaportes e receber o Certificado do Caminho. O Centro conta com livraria, um café com musica ao vivo e está localizado em um prédio histórico, que pegou fogo em 2012 e hoje está totalmente restaurado. Pegamos umas informações sobre pousadas e logo na  saída aceitamos a ajuda de um cicerone para encontrar um lugar para dormir, o cara saiu correndo uns trezentos metros e nós, de bicicleta  seguindo ele.  

Ficamos em um hostel que só tinha o Júnio e eu hospedados, pagamos 60,00 pp. com café da manhã, saiu barato e ficamos bem localizados.

Amo Ouro Preto, só tenho boas recordações dessa cidade, um museu a céu aberto sua história, suas construções, suas ruas e seu clima tudo se coaduna para torná-la única.

A lista de atrativos é longa, mas não se pode deixar de visitar a Igreja de São Francisco de Assis, o Museu de Mineralogia, a Casa dos Contos, o Museu do Oratório  e o museu da inconfidência. Na verdade é uma injustiça listar somente esses locais.

A decepção fica pelo abandono do Horto dos Contos que já possibilitou  passeios agradabilíssimos, uma perda para todos os turistas. 

No dia seguinte, foi o dia da partida, pegamos o ônibus de Ouro Preto para BH - Pássaro Verde R$ 33,60 depois de BH para Diamantina, R$ 105,00 mais ou menos 5h de viagem.


Alguns números de nossa jornada:

438 Km rodados de bicicleta;
1.404,00 gastos com transporte, pousada, alimentação;
27 cidades, povoados ou vilas.
8 dias de pedal
21 litros de água consumida (no meu caso)
0 pneu furado;





Praça Tiradentes

Monumento à Tiradentes, elevado a 18 m 

Igreja de São Francisco de Assis.
com projeto do Aleijadinho é uma preciosidade da arte Barroca
iniciada em 1765 e finalizada em 1794.



Ao alta a Igreja de Santa Ifigênia (1733-1785)

Igreja Nossa Senhora do Rosário (1765)
Foto: Junio Cezar