A antiga ponte sobre o rio Lençóis.
No segundo dia saímos cedo de
Campos de São João rumo à bela cidade de Lençóis, colocamos as bikes na pickup
pegamos a BR 242 bem conservada, mas a neblina densa exigia cuidado, saindo da
BR entramos na BA 144 para chegar à cidade. Lençóis é uma daquelas cidades que
dá vontade de passar uma temporada por lá. Depois de um café da manhã reforçado
em uma lanchonete que infelizmente não guardei o nome, fomos fazer uma pesquisa
de preços para nos hospedarmos.
Ainda caía uma chuvinha fina, quando chegamos à
Pousada e Camping Lumiar. Conseguimos uma diária em quarto quádruplo de R$
70,00 por pessoa.
Quarto muito bom em um antigo casarão colonial do ciclo do
diamante. A pousada ainda possui um ótimo restaurante e boa área para camping.
Depois de alojados, colocamos as bikes pra rodar. Primeiramente um passeio
pelas ruas calçadas de pedras. Depois de algumas informações e algumas
tentativas de contratar um guia, resolvemos seguir pela trilha para a cachoeira
do Meio.
Chegamos sem dificuldade à entrada da trilha. Uma trilha curta, porém
bem desafiadora para quem está de bicicleta. Cercada de mata com alguns trechos
de valas fundas, outros com muitas pedras e raízes se tornou nosso parque de
diversão. São aproximadamente 3,5 Km de trilha, mas dá para se divertir
bastante. Bruno e eu deixamos as bikes escondidas no mato, Boy e Gilberto chegaram
mais próximos da cachoeira.
A bela cachoeira do ribeirão do Meio. Um tobogã
natural cuja rocha lisa permite ao banhista fazer uma descida radical até
mergulhar na imensa piscina de águas escuras devido ao tanino de folhas diluídas naturalmente. O
poço é fundo e com muitas pedras para ficar. Tem vários lugares para saltar,
mas não se deve saltar sem perguntar aos salva-vidas e guias que ficam no local,
às vezes rochas que estão a poucos centímetros da tona não são vistas pelo
banhista.
Em seguida pegamos as bikes e nos dirigimos à
cachoeira do Sossego, mais trilhas divertidas. Fomos pedalando até onde deu,
deixamos as bikes presas e seguimos a pé. Perdemos a trilha e não chegamos à
cachoeira, voltamos meio frustrados, mas o passeio valeu.
A volta pela trilha é
outra aventura, agora com mais descidas. Chegando à Lençóis, fomos comemorar na
rua da Baderna.
Na verdade duas ruas com vários bares, fechadas ao trânsito e com as mesas
dispostas na rua.
Voltamos à pousada para prepararmos
nosso jantar. Naquela noite churrasco e macarrão. Tudo preparado na cozinha do
camping.
No dia seguinte, o amigo Bruno não amanheceu bem, já anunciou que não conseguiria pedalar.
A távola redonda foi convocada. Ficou acertado que o Bruno ia dirigindo até Lençóis, uma viagem de cerca de 100 Km voltando pela BR 242. Nós três, iríamos pela estrada antiga até Andaraí. As informações nos chegaram como sendo 45, 38 e 35 Km.
O pessoal da pousada nos deu algumas dicas e então partimos. O Caminho é um passeio à parte, estradões de areia branca, todo sombreado, com alguns trechos pedregosos e várias travessias de rios e riachos. A areia fofa ameaçava um tombo que não aconteceu, mas exigia muito das pernas. Nosso lanche em um área bem sombreada, foi composto de carne, biscoitos e rapadura, nada mal.
O caminho margeia o arenoso Rio São José, cujas águas também têm cor de chá preto.
Tem que cuidar da relação.
Depois de cerca de 18 Km Chegamos na majestosa cachoeira do Roncador, pausa para banhos e fotos.
Em seqüência, mais areia, mas era muito prazeroso andar naquelas estradas desertas, logo começamos a margear um pântano que integra o grande pantanal de Marimbus.
Logo em seguida um belo delta arenoso formado pelo ribeirão Garapa. Para transpor o rio tínhamos que carregar as bicicletas nas costas. Celebrávamos cada uma dessas travessias, algumas com o rio atingindo a cintura.
Chegamos a Andaraí depois de 28 Km, daí foi só andarmos pela cidade para encontrar nosso amigo, “desgarrado” Bruno. Previdente nosso amigo já havia arrumado um lugar para comermos um PF muito bem vindo, e tomando um moto-taxi arrumou a pousada Andaraí para ficarmos naquela noite.
Pousada boa com piscina, valor por pessoa 50,00. Andaraí possui várias opções de pousada, não sendo problema se hospedar por lá. Depois de um banho, saímos para traçar nossa rota no dia seguinte.
Conversamos com o Ney e o Pelé da Ney Bike, a melhor oficina da cidade. Queríamos dar uma manutenção, lavar e lubrificar as relações que já estavam com muita areia, ficamos de levar no dia seguinte, o que infelizmente não aconteceu. O Ney e o Pelé nos ajudaram a traçar nossa rota para o dia seguinte. Fomos para a pousada jantar uma suã de porco preparada com maestria pelo Gilberto.
Vista parcial da cidade de Andaraí
No dia seguinte, 28/07 deixamos toda
a tralha pronta e saímos na rodovia BA 142 sentido Mucugê, depois de 4,3 Km tem a ponte
do rio Paraguaçu à nossa direita a Cachoeira Donana e à esquerda um balneário
com praias de areia branca. Depois de andarmos aproximadamente 6 Km, avistamos
uma placa bem discreta que indicava a trilha para Igatu.
Trilha de 6 Km de subida, rumo à cidade de pedras
A Trilha é o antigo
caminho dos garimpeiros, tínhamos sido orientados a subir pelo calçamento que
está pouco a frente da entrada da trilha, e só então descer por essa trilha
antiga. Resolvemos encarar a pedreira na subida.
E foi a melhor escolha do dia.
São cerca de 6 km de subida que mesclam trilha técnica, calçamento de pedra,
paredões rochosos, mata e caatinha. Sem dúvida a melhor trilha que já fiz na
vida, e meus três amigos disseram o mesmo.
Empurramos em muitos lugares, eu mais que os outros, afinal alguém tinha
que fotografar.
Para quem curte single tracks
não tem trilha melhor, para nosso amigo Boy, “o pai do single” era o paraíso. A
trilha ainda nos reservava uma surpresa, já no final, chegando em Igatu, as
ruínas de uma antiga vila com casas feitas de pedra. Uma visão surreal, as
ruínas mimetizadas na montanha. A história do garimpo com um testemunho irretocável.
Impossível não parar para admirar aquele lugar.
A igreja bem no final da trilha,
para quem sobe, é do século XIX dedicada a São Sebastião, não encontramos placa
indicativa da construção da igreja, mas no cemitério ao fundo tem um túmulo de
1800.
O belo povoado de Igatu é tombado
pelo IPHAN, suas ruas antigas com casario do apogeu do garimpo e com algumas
casas antigas de pedra que aproveitam rochas naturais como paredes e coberturas, também chamam a atenção.
O clima em Igatu é ameno, em agosto
há um festival de inverno que tem atraído cada vez mais pessoas, fiquei tentado
em conhecer esse festival.
Na praça da vila tomamos uma
cerveja para comemorar e comemos ovos e batatas cozidas que levamos nas
mochilas. Vimos um cartaz de um turista
espanhol que estava desaparecido, a última vez em que foi visto estava indo para o
vale o Paty sem guia.
A descida, não poderia ser diferente, foi
fantástica. Muitos trechos técnicos, muita rocha e outros obstáculos, curvas
fechadas e abismos nas laterais, cenário perfeito pro “pai do Single” deslizar
montanha abaixo.
Quando chegamos ao asfalto, já
estávamos com saudade da trilha. Pedalamos então pela rodovia até logo depois
da cachoeira Donana entramos à direita para o balneário do rio Paraguaçu.
Alí
depois de um banho de rio fomos comer uma moqueca de apanhari no bar do Márdio,
um baiano típico, hospitaleiro e atencioso que pesca o peixe que vende em seu
quiosque. O Márdio emprestou a moto ao Bruno para que ele buscasse a
caminhonete lá na pousada, pois dali mesmo sairíamos para Mucugê.
Antes de
irmos, o Gilberto presenteou o Márdio
com uma generosa porção de "Carne de Lata", uma iguaria da cozinha mineira.
Rio Paraguaçu
Moqueca no bar do Márdio.
Depois do almoço pegamos a estrada
para Mucugê, BA 142. Chegamos em Mucugê no meio da tarde, a tempo de procurarmos
uma pousada e ainda fazer um turismo.
Há várias opções de pousadas em
Mucugê, um camping que não nos agradou, pousadinhas mais simples, sem garagem e
ótimas pousadas com instalações confortáveis e preços razoáveis. Depois de
conhecermos algumas opções decidimos pela pousada pé-de-serra.
A pousada, bem
localizada, possui um belo mirante em sua parte de trás, boas acomodações e
café da manhã excelente, funcionários atenciosos e o dono, Luis Silveira e sua esposa Juliana, são guias.
A cidade histórica de Mucugê teve início no século XVIII e possui vários casarões de estilo colonial português. A origem do nome da cidade vem de uma fruta da região, que, aliás, produz um licor saboroso.
Contratamos o Luis Silveira, o proprietário da pousada, para ser nosso guia. Saímos cedo de bike para conhecer a cachoeira da Sibéria, dentro do Parque Nacional. Uma estrada linda e com alguns trechos desafiantes, descidas e subidas íngremes, travessias de cursos d’água e muita beleza. A cachoeira possui uma piscina natural ótima para banho, apesar da água estar fria, não resistimos ao chamado do Paraguaçu.
Ainda se pode encontrar moradores nas casas de pedras
Dali voltamos para rodovia e seguimos para o projeto Sempre-viva do Parque Municipal do Mucugê, paga-se uma taxa de visitação, possui lanchonete, loja de souvenir e um museu que preserva a história da flor da sempre-viva, que foi o segundo item de exportação da chapada. As flores foram vendidas para o mundo todo e há um buquê de 1958 bem preservado – Daí o nome sempre-vivas.
No parque dá para visitar as cachoeiras da Piabinha e do Tiburtino. A primeira devido à estiagem estava com pouca água, a segunda no entanto era caudalosa. Desce de uma longa cascata e termina em uma piscina excelente para banho. Passeio nota dez.
Sede do projeto Sempre Viva.
Cachoeira do Tiburtino
Com o nosso guia Luis Silveira
Na saída do parque passamos pelo
Museu do garimpo de Mucugê, abrigado em uma casa de pedra onde antes morou um
naturalista francês e na beira de uma trilha memorável.
Fizemos uma trilha de bike
excelente, em um trecho onde foi disputado o prólogo da prova de Mountain Bike
Brasil Ride. Essa trilha é um remanescente da antiga Estrada Real da Bahia, que
servia para escoar a produção de diamantes.
Aqui e abaixo, trechos da Estrada Real da Bahia
Voltamos para a cidade para
almoçarmos no Restaurante da Dona Nena, ótima comida feita e servida no fogão à
lenha. A simpatia da proprietária é uma atração à parte. Ela nos disse que a
bicicleta melhorou muito a vida do filho dela que emagreceu e passou a ter uma
vida mais saudável devido à pratica do esporte.
Com a simpática Dona Nena.
No final da tarde, subimos ao
mirante do Cruzeiro que fica atrás o cemitério Bizantino, que também é uma
atração turística do lugar. A subida até o cruzeiro é exigente, mas rápida, de
lá se tem uma vista linda da cidade de Mucugê, do pôr do sol e do vale do Rio
Preto que vem lá do Vale do Capão.
À noite, saímos para tomar uma
cerveja artesanal, tomamos uma ótima Stout e uma ótima Weiss, como não pesquisamos
antes, o preço foi salgado 28,00 a garrafa, mas o local é que era caro, comprei
um litro de licor de Mucugê por 40,00 e depois achei outro ainda melhor por
20,00. Apesar de ser férias de julho, quando a Chapada Diamantina fica repleta
de turistas, neste ano o movimento foi afetado pela situação econômica do país.
Por um lado foi bom pois conseguimos preços mais justos, mas como o turismo é
uma importante fonte de receita em toda a chapada, percebemos que o comércio
seria afetado.
O Rio Preto corta o vale
Cemitério Bizantino
Despedimo-nos de Mucugê e no dia seguinte demos um descanso
para as bikes. Fomos conhecer a Cachoeira do Buracão, no Município de Ibicoara,
distante 116 km de Mucugê. Combinamos com um guia de Ibicoara, pois somente
eles podem guiar para a cachoeira, diária 100,00 para 04 pessoas. Um guia disse
que poderíamos levar as bikes na Carretinha até o primeiro portal, distante
cerca de 30 km da cidade, resolvemos deixá-las em Ibicoara. Ainda bem que deixamos na cidade! A estrada
é muito irregular, balançou muito a camionete, com a carretinha avançaríamos muito
mais lentos.
Rumo à Ibicoara
Como nosso guia nos esperaria no primeiro portal da cachoeira que está no parque Municipal do Espalhado, e não há placas indicativas e as informações são meio confusas, erramos a entrada e rodamos muitos quilômetros inúteis. Paramos um carro e conseguimos uma informação mais consistente, tínhamos que voltar mais de 10 Km. Quando chegamos ao portal, nosso guia já estava chateado e nós também, reclamamos da falta de sinalização e relaxamos. Dali foi só alegria.
A trilha para se chegar à cachoeira é muito bonita, passamos pela cachoeira do buraquinho, cachoeira das orquídeas e a do Recanto Verde que cai de uns 15 m e desaparece em um sumidouro.
Logo depois chegamos ao cânion da grande atração. A princípio não se vê a cachoeira, existe uma confluência de Cânions. Não fossem pelos turistas, todos trajando coletes coloridos, teríamos a impressão de estarmos em um vale perdido. A água escura e fria com uma espuma branca formando um caminho sobre o rio completava o clima de suspense. Para ir até a cachoeira tem dois caminhos, um por dentro do rio Una e outro atravessando uma pinguela suspensa a uns 08 metros de altura e depois seguindo pelo paredão. Fomos pela água gelada e depois de alguns metros nadando a cachoeira se revela para nós. Um espetáculo de 98 metros de queda dentro de um Cânion formado por rochas que lembram um folheado.
Trekking para a cachoeira do Buracão
Cachoeira do Buraquinho
Cachoeira do Recanto Verde
Cacheira do Buracão
Serra do Sincorá
Nosso quarto em um antigo porão.
Ao todo rodamos de carro 2.958 Km
foi muito, mas valeu a pena
Menos de 200 km de bike, foi pouco
mas valeu a pena
|
4 comentários:
parabens pra vcs lindas fotos espero um dia poder tbm conhecer este lindo paraiso.mais deixo deste ja que sem o mestre cuca gilberto nao tem viajem.
Obrigado, Zequinha pelo comentário. Realmente a Chapada Diamantina é um paraíso. O Gilberto na cozinha foi um verdadeiro achado. Foi bom termos levado nossa cozinha, só que com isso perdemos algumas oportunidades de aproveitar a gastronomia local.
um grande abraço.
Parabéns pelos registros..lugar espetacular.
Maravilha de passeio!
Vendo essas imagens lembro de quando estive por lá há uns 20 anos atrás (não de bike claro). Quem sabe sigo teus caminhos pela Chapada no futuro. Abração!
Postar um comentário